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VOTAR NUM CANDIDATO E NÃO ELEGER A CIDADANIA

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

As vezes nem parece, mas as eleições estão se aproximando. Meio sem sabor, sem cheiro, sem gosto! Os partidos políticos e seus líderes começaram a se movimentar para realizarem suas convenções, coligações, linhas de apoio. Mas parece que os compostos não provocam muitas reações químicas no nosso dia a dia.

Este primeiro ato é o de definição de candidatos e de apoios. É, na verdade, a primeira eleição, a mais importante! Os partidos políticos decidem em quem você poderá votar. Agora, eles votam e nós assistimos pela TV. Os partidos escolherão dentre seus filiados o cardápio político que vão nos entregar para que depois, somente depois, o eleitor possa escolher. Esta primeira parte eleitoral é o processo de “Primárias Eleitorais” que são “Fechadas” e exclusivas aos partidos políticos. Dali nascem os candidatos. Depois, você eleitor pode escolher entre os escolhidos.

É também o período em que aparecem muitas publicidades e notícias sobre condutas e orientações aos eleitores. E aí nascem um conjunto de boas intenções que provocam confusões. O próprio Tribunal Superior Eleitoral provoca propagandas segundo as quais votar é construir “A Democracia” com ingredientes de participação de cada um. O apelo afirma que você tem que votar, e votar é participar para que haja democracia pela sua atuação. E ponto. Você vota, participa e pronto: democracia feita.

Telejornais também criam “Séries Eleitorais” e ativam que o Eleitor é o Senhor dos Tempos Políticos. Cabe ao eleitor saber o papel a ser desempenhado nos cargos que serão ocupados e que esses mesmos eleitores não poderão desperdiçar seu voto. Tem que votar em algum candidato porque alguém será eleito. Então, que seja eleito aquele em quem você votou.

Em todos os casos de estímulos ao voto, o eleitor não deve ser negligente com a Democracia e seu ato é todo o ingrediente para a metamorfose da esperança. Tolices! As propagandas deveriam ser dirigidas aos candidatos e, depois, intensificada aos eleitos! Quando conjugam Democracia com participação, representação de interesses, o valor das necessidades coletivas, fazer a sua parte para o desenvolvimento do país etc. deveriam colocar na plateia principal todos os que querem ser eleitos, e na primeira fila, todos os eleitos.

Por fim, num determinado momento, alguns chegam ao extremo de afirmar que não votar em um candidato é “jogar o voto no lixo”; é desprezar a oportunidade de mudanças e transformações; é deixar de ser cidadão; é estar desinteressado pela política; é abrir mão de decidir... Mais tolices! Você pode deixar de votar em algum candidato e exercer seu valor como ato político ao não legitimar a continuidade da trajetória que percorremos desde 1988 com a Constituição Cidadã que não tem indivíduos cidadãos.

Uma Constituição que foi assaltada por privilégios, por seletividades entre pessoas, por desproteger aos mais necessitados; que gerou um sistema eleitoral pouco ou nada democrático, com candidatos que em sua maioria ou mesmo totalidade atuam pelo Patrimonialismo [tornam privado o que é público, e pessoal ou que é coletivo]. O seu voto, Senhor Eleitor, até hoje não o transformou em cidadão, apenas lhe deu obrigações. E você pode escolher qualquer escolha: inclusive fazer do voto o seu posicionamento político, muito mais do que o ato eleitoral de votar em qualquer candidato que até hoje quer seu voto e depois lhe fica de costas. Nossa história política é um conjunto repleto de descaso com a cidadania, desde suas origens. E o voto e o eleitor foram incapazes de provocar as grandes mudanças desejadas.

O momento é um convite para conhecer nossa trajetória política, nossos valores sociais, nossa cultura política, nossa identidade como cidadão e a história de nossa trajetória que diz o que somos e como chegamos até aqui.

Vem aí as AULESTRAS EXITUS! Aguarde!

 

 

 

Crédito da imagem: ilustração de André Ducci



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