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VELHA ROUPA COLORIDA!

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

“E o passado é uma roupa que não nos serve mais!” Parece que nada nos serve. Nenhuma instituição nos representa! E agora?

De fato, todos aqueles com mais de 35 anos estão vivendo num processo catártico segundo o qual o velho já morreu e o novo ainda não nasceu. Estamos passando exatamente por este momento de superação, sem nada estar superado. É algo dramático que já aconteceu em nossa história. O Renascimento durou cerca de 200 anos e estabeleceu exatamente a passagem da idade média para a idade moderna. Período em que se deseja enforcar o último padre (representação simbólica do poder político da Igreja) com as tripas do último rei (representante simbólico absolutismo).

Embora os processos naquele tempo “fossem mais lento”, e hoje tudo corre com a velocidade da internet, a condição humana e social foi transformada. Perdemos os elementares processos instituições de instrução do comportamento humano. Reconhecíamos na vaca a origem do leite colocado à mesa; reconhecíamos a instrução moral formada pela religião; vivenciávamos nos professores a principal origem das condutas éticas. E o trabalho era consolidador da vida adulta.

Tudo isso mudou. E na política parece com mais intensidade. O governador não é reconhecido como representante geral de nossos interesses; prefeitos sofrem para estar “de bem com a mídia” para estimarem melhores avaliações, mas concretamente nenhuma nova ideia aparece; vereadores se mutilam para que sua imagem pessoal e isolada seja mais bem quista pelos eleitores para formarem capitais eleitorais mais vantajosos em novas disputas.

Parece que tudo isso é uma condição que não nos representa. Nem Presidente da República, nem Congresso Nacional (Deputados Federais e Senadores, que podem até “conseguir” emendas aqui e ali); nem governador, nem deputados estaduais estão autorizados a afirmar nossos desejos; nem a maioria dos prefeitos está pronto para sair às ruas e falar de frente com o eleitor (que dificilmente é cidadão).

O principal de tudo isso é que a constituição do indivíduo foi transformada. O “sujeito” social atual se conduz pela parcialidade da internet, sorri por “emoji” (aquelas carinhas que se usa para indicar sentimentos, enquanto fica raro ouvir uma gargalhada), se diz conectado para se comunicar, embora nunca esteja ali; faz seus acertos via WhatsApp, e se diz se tempo para beijar seus filhos.

De fato, as instituições sociais e políticas não conseguem mais existir por causas e consequências nossas. Não nos representam mais. Ninguém consegue fazer uma self com o congresso nacional, por exemplo. Nossa motivação social está extremamente hedonista e egoísta. Cada um sabe de si e não se reconhece nos outros e em instituições. Cada um desejar ser um ”pop star” como falência característica da comunidade e da sociedade. É preciso reformar a política para dar condições para que esses indivíduos isolados e fragmentados na internet consigam religar (“religião”) sua vida à vida dos outros. Enquanto o indivíduo estiver fragmentário ao mundo e as instituições sociais e políticas não os conseguirem religar, estaremos em catarse. Quando o passado é uma velha roupa que não nos serve mais! E estamos nus!

 

 

 



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