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SOCIALMENTE HUMANOS

 

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

Aos leitores: não há neste artigo quaisquer juízos de valor com referência à política, apenas esforço analítico sobre os tempos políticos atuais. Compreender é procurar entender.

 

Não é notícia incomum que sejam apresentados fatos nos quais uma pessoa ou um conjunto delas busca “fazer justiça com as próprias mãos” ou executar sua vingança pessoal contra um outro. Isso nos coloca diante de problemas que são fundamentos da existência da ordem política e social: anomia, contrato social e ordem política.

A anomia significa ausência de normas que regulamentam as relações sociais e políticas entre os indivíduos. Porém, há momentos em que uma sociedade ou um grupo social passa a acreditar que as normas que regulam suas práticas sociais estão em conflito ou não tem funcionalidade prática. Quando isso ocorre, os indivíduos passam a se defender uns contra os outros.

A anomia revela a deterioração de um dos pilares do contrato social pelo qual as pessoas abrem mão de sua liberdade natural em troca de segurança e paz para ativar sua própria vida. É porque as pessoas seriam naturalmente egoístas, revelando sua natureza ainda quando crianças. Essa condição existencial da natureza humana, caso não seja alterada em nome da ordem social, criaria um conjunto de pessoas que defenderiam a si mesmas em virtude de acreditarem que os outros existem também em seu próprio egoísmo. Um aluta de todos contra todos, “homem lobo do homem” [T. Hobbes, Leviathan, 1651].

O acordo que faz terminar o estado natural em nome da criação do estado social e político é o fenômeno criador do homem civilizado capaz de operar sua vida por regulamentações exteriores a si mesmo. Ao se abrir mão de sua própria vontade [egoísta e violenta] em nome da vontade geral [concretizada em leis e cultura social] e que compensariam a exaustão de viver em condição de violência, medo e pessimismo se cria a sociedade, o Estado, a política cria-se o processo civilizatório moderno.

Voltado para o próprio interesse das vontades dos homens e mulheres de uma sociedade, sem a predestinação divina ou de outra ordem, o processo civilizatório tem a missão de gerar segurança para agir, paz para viver, otimismo para se criar, e soluções mediadas para os problemas que enfrentamos e enfrentaremos.

Na ausência da civilização moderna ou na urgência da anomia nascem os tiranos, fertiliza-se a barbárie, vagam as “balas-perdidas”, incendeiam os assassinatos baseados na vingança pessoal, vulgarizamos a violência da força física como domínio, deixamos de nos indignar com as brigas entre estudantes nas escolas, perdemos a capacidade de nos indignar com mortes em série... E vamos vivendo, torcendo para que o descalabro social não nos atinja em alguma esquina. Por causa disso, estamos em alerta sensível quando frequentamos as ruas mais afastadas de nosso dia a dia.

No fundo, deixamos de ter os mecanismos de entrelaçamento dos indivíduos pelo contrato social, desleixamos as instituições reguladoras de relações sociais, desanimamos das estruturas de justiça [apeada no Direito igual para todos], deslocamos a moral cotidiana e nos armamos para poder defender nossos direitos em todos e quaisquer sentidos. Tornamo-nos “caça” quando deslizamos sobre o socialmente humano. Não parece fazer sentido a vontade de “todos por um” objetivo. É cada um por si [sem ser em nome do liberalismo político].

E os resultados se transformam em estatísticas: sem cor, sem dor, sem indignação, sem civilidade!

 

Na próxima Quinta-Feira teremos o primeiro artigo do Professor Eduardo Guerini, abrindo uma nova temporada de interpretação e compreensão sobre estado, Economia Política, Política Governamental...

 

 

 

 

 

 

 

Sugestão de trilha sonora: Panis et circenses

Artista: Os Mutantes

Álbum: Os Mutantes

Data de lançamento: 1968

 

 

 

 

Crédito da imagem: Capa do álbum ""Secos & Molhados"". 

Foi o álbum de estreia do grupo homônimo, lançado em agosto de 1973. 

"A capa bastante polêmica que segundo alguns autores seria um indício antropofágico do que viria ser o álbum: “…para o deleite gastronômico dos ouvintes.”. Dela se tem uma história contado pelo fotógrafo bem interessante, Antônio Carlos Rodrigues produziu uma mesa com produtos vendidos em armazém (nome genérico para secos e molhados) onde se vê a broa, o feijão, o vinho genérico. Durante a sessão de fotos os integrantes do grupo ficaram sentados em cima tijolos e segundo Ney Matogrosso à baixo da mesa fazia muito frio enquanto acima estava muito quente por conta das luzes. Com influências poéticas e de inúmeros gêneros musicais, o álbum é um dos mais importantes da música brasileira. É raro em um álbum que todas as músicas sejam fantásticas, um disco realmente para se saborear." [Fonte:https://tropicalismoselvagem.wordpress.com/2014/07/19/secos-e-molhados/]

 



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