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SOBRE O PROCESSO ELEITORAL: O NECESSÁRIO E O FRÍVOLO

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

Aos leitores: não há neste artigo quaisquer juízos de valor com referência à política, apenas esforço analítico sobre os tempos políticos atuais. Compreender é procurar entender.

Com orientação da Filosofia Positivista [Teoria segundo a qual os acontecimentos sociais, morais e físicos podem ser previstos pelo conhecimento das leis que os regem], Karl Marx afirmou que a História se repete enquanto não se superarem o modo de produção [superestrutura] de uma sociedade.

Em parte, essa afirmação se eleva em termos de resultados gerais. Isto porque a formação de uma sociedade está fundamentada em estruturas institucionais que condicionam e geram os estímulos aos comportamentos. Contudo, quando consideramos momentos de tomadas de decisão, um novo conjunto de orientações se nos apresentam e a história obtém novos contornos.

É relativamente fácil perceber as mudanças que ocorrem entre uma eleição e outra. Os estímulos ao comportamento eleitoral, por exemplo, são apresentados de acordo com a avaliação da política em geral e do gestor ocasional em particular – aquele que ocupa o lugar de Prefeito, que exerce o poder de decisão local, mas não se confunde com o cargo. E aí está a diferença fundamental entre SER [condição de essência de existência das coisas] e ESTAR [condição de aparência, dispensável, que se o ocupante não existisse o fenômeno SERIA de outra forma].

Numa eleição, as condicionantes contextuais passam a exercer os estímulos para que as pessoas se motivem a agir de um modo ou de outro. E, a despeito dos efeitos de uma eleição anterior, são os parâmetros que “oferecidos” pelo momento político atual que fazem as escolhas se agruparem em determinados pontos. Se um prefeito é avaliado dessa ou de outra forma, são essas formas ou orientações que coordenam as atitudes dos eleitores. Esse é o ponto-chave. É aqui que podemos encontrar as possibilidades de compreensão do comportamento eleitoral perante as condições políticas “dadas”. E isso, muito provavelmente, servirá apenas para este momento.

Assim, podemos dizer que, de forma geral, o vencedor eleitoral não ganha, apenas deixa de perder. A vitória se estabelece na acomodação entre liderança política e respostas à gestão pública. Ser líder político decorre dos resultados de capacidade de organização do poder político [habilidade de liderar partidos, comandados, e relacionamento com outras instituições políticas]. Isso gera estabilidade e força políticas. As respostas à gestão pública surgem das intervenções estruturais na formação da cidade e nos elementos morais e éticos do comportamento. Isto é, da capacidade de se tornar autor na cidade, de ser representante inconfundível na história municipal. Isso não se faz de qualquer jeito.

As condições de disputas eleitorais estão disponíveis para que os partidos políticos, os desejosos a candidatos, os planejadores políticos [e não os marqueteiros] passem a perceber as combinações necessárias entre perfil pessoal, imagem pública e contexto de concorrência. Não adianta agir, contornar problemas ou imaginar soluções se não se compreende o contexto político no qual estamos inseridos. Os desejos pessoais ofuscam a compreensão e não se aproximam das necessidades originadas na população. É pelos moradores e não pelos candidatos que se faz a eleição.

A história eleitoral atual não será espelho da anterior, embora influenciada por ela. É tempo de se distinguir a necessidade existente nas cidades das frivolidades pessoais. A compreensão do cenário não é fácil ou intuitiva. O mundo não se traduz facilmente ao nosso conhecimento e à nossa sabedoria. O que as pessoas dizem sobre o mundo não se confunde com o mundo, mas são parte do que se deve estudar para se compreender este mesmo mundo. Isto é, o que as pessoas dizem é para ser estudado para se obter boas respostas, e não é a resposta simples, direta e definitiva sobre as coisas.

As eleições se transformam num complexo fantástico e entusiasmante para se compreender e se conhecer comportamentos, estímulos e motivações políticas. Ainda que compreendê-las não seja simples, fácil ou intuitivo e exija mais do que vivência e participação. Ganhar é diferente de vencer!

 

Sugestão de trilha sonora: Será

Artista: Legião Urbana

Álbum: Legião Urbana

Data de lançamento: 1984

 

Crédito Imagem e audiovisual: google imagens // youtube



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