SOBRE A SOBERBA HUMANA
JANUÁRIO, Sérgio S.
Mestre em Sociologia Política
Para que servem as Instituições? Quais os aspectos mais evidentes de relações entre indivíduos e instituições? São perguntas que nos ajudam a pensar sobre o momento político pelos quais passamos.
O primeiro passo necessário é nos afastarmos das respostas rápidas, carregadas de nossos interesses, elaboradas apenas para chegar a uma conclusão pré-definida. Assim, como elemento pedagógico, conseguiremos nos afastar do que queremos, da nossa vontade particular, e estabelecer o que podemos entender. Separar vontade pessoal e compreensão sobre as coisas é elementar. Se não conseguirmos fazer isso é melhor recomeçar ou nem mesmo começar. Pelos interesses pessoais ou pela defesa antecipada de um posicionamento já pronto teremos apenas luta e agressões, violência verbal e constrangimentos, autoritarismos. Nenhuma compreensão.
Como necessariamente vivemos em grupo e nos comunicamos, a mediação para que isso ocorra é algo maior do que as próprias pessoas. As instituições são os elementos da vida política e social que nos organiza porque são capazes de impor valores comuns a todos. Esses valores servem para orientar nosso comportamento frente aos outros e nos ajudam a ficarmos seguros sobre os comportamentos dos outros. Instituições nos permitem viver em relativa estabilidade justamente porque são maiores do que os indivíduos.
Assim é o Trabalho, a Religião, a Escola, as Profissões, o Comércio, o Dinheiro, as Leis etc. Tudo isso nos ajuda a fazer as coisas, a desejar conquistas, a percorrer caminhos, nos preparar para agir em sociedade. Por isso, quando as instituições ficam enfraquecidas perdemos a segurança ora existente para agir em relação aos outros e para antecipar as formas de os outros agirem. Vira confusão e insegurança: uma zebra danada.
As instituições regulam as formas de comportamento para que a sociedade possa ser transformada, mudada, refeita de modo relativamente seguro, estável. Isso evita que as pessoas possam se relacionar pela agressão [verbal ou física], pelos interesses individuas mais primitivos. Por isso as crianças são socializadas: para que assumam um conjunto de valores e formas de relacionamentos “obedientes” às instituições. Assim verbalizamos que as crianças são educadas e preparadas pelos pais para o mundo e não para os próprios pais. Isso significa que cada membro da sociedade é formado para atender ao mundo social, das instituições, dos valores morais já existentes. Nasce a civilização.
O que faz com que a sociedade [nossos comportamentos em rede] seja tão “inacabada” é o fato da existência do poder. Não o poder em si, mas o fato de que alguns membros, ao assumir o exercício do poder, se promover como sendo a própria instituição e elaborar a superioridade institucional como se fora pessoal. Assim, a condição de as instituições serem criadas para regularem a vida dos indivíduos fica deteriorada, e a pessoa que ora fica no cargo de poder coloca-se como sendo a própria instituição. Este é o parto do autoritarismo. E isso aparece, flagrantemente, no comportamento das pessoas. Especialmente quando se imaginam fora do alcance da vigilância institucional e do controle social.
Talvez, assim, possamos COMPREENDER, muito além de nossas preferências pessoais, o momento político pelo qual passamos.
Sugestão de trilha sonora: Bicho de Sete Cabeças
Artista: Zeca Baleiro
Álbum: Perfil
Data de lançamento: 2003
Imagem: Pinterest