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SANTO DO PAU OCO

 

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

No Brasil, durante os 322 anos de Colônia Portuguesa na América, o que existiu foi a extração de riquezas com a finalidade de financiar os custos imperiais da monarquia portuguesa. Os brasileiros desta época [aqueles que cortavam o pau-brasil, uma subclasse de trabalhadores] não tinham nenhum compromisso em se fixar na terra [colonizar]: eram exploradores. Esta terra era um grande prato para alimentar a aristocracia lusitana.

Os portugueses não tinham interesse em formar um Estado, uma estrutura política capaz de organizar um território e seus ocupantes. Não intencionavam fixar raízes. Na ausência de Um Estado não poderia aparecer qualquer cultura nacionalista ou uma nação. O Brasil, como organização política não existia; era como um investimento especulativo, uma mina de minerais a ser esgotada e após seu esgotamento, abandonada.

Daqui tudo se retirava. Para não pagar tributos se criou, pela esperteza e jeitinhos, estilos de contrabando e de enganação que trazemos em nossa linguagem e atitude até hoje: santo do pau oco [contrabando de ouro ou riquezas minerais em imagens de santo], coisa para inglês ver [leis escravocratas que na prática não eram cumpridas]. Esse ovo comportamental eclodiu dando cara a nosso sistema de valores políticos [cultura].

A cultura política passou a se estruturar na condição de que tudo o que é público não tem dono. Se o público pertence a quem pôr as mãos primeiro, afasta-se também o valor da cidadania. No domínio público quem chegar primeiro toma como seu. Se não tem um dono, então, pode ser meu. A ética pública governamental se torna, assim, um patrimônio privado quando as mãos de uma pessoa se apropria do que, como público, não tem dono.

A burocracia pública se tornou uma forma de organizar o santo do pau oco. Como extrato de combinações entre interessados, se combinam quem ganha. Quem ganha, e não quem vence! [e quem perde: o tributado, você, eu]. De forma geral, não é uma disputa, mas um arranjo. A burocracia pública tem tantas entranhas nebulosas que somente um grupo de especialistas superdotados poderia decifrá-la em tempo hábil. O exato contrário da transparência!

A transparência é a possibilidade de os governantes serem controlados, e facilmente avaliados. E quem deveria fiscalizar a execução do dinheiro público, que aparece pelo pagamento do IPTU, por exemplo, desloca seu compromisso para seus próprios interesses [com cargos e vantagens]. Vereadores passam a incrementar o sistema de vantagens pessoais. O valor político de cidadania não nasceu.

A cidadania surge como revanche institucional num apelo de salvação e heroísmo quando o GAECO ou a Polícia Federal faz uma visita inesperada. A política, que originalmente é a arte da esperança, se forma como a decantação lenta e gradual de operações policiais. A cada Operação denominada em radicais gregos, concede aos eleitores-votantes o fervor da vingança. E mais uma vez a cidadania é dilacerada

 

 

Sugestão de trilha sonora:  Debaixo dos panos 

 

Artista: Ney Matogrosso

 

Álbum: Mato Grosso (1982)

 

Data de lançamento: 1982

 

 

 

 

Foto do artigo: São Tomás More, declarado padroeiro dos governantes

 

“O homem não pode ser separado de Deus, nem a política da moral”, disse São Tomás More, declarado padroeiro dos governantes e dos políticos por São João Paulo II e cuja memória litúrgica é recordada neste 22 de junho.  [Fonte: ACI Digital - Agência Católica de Informações (ACI)]

 

Crédito da foto e audiovisual: Google imagens / YouTube

 



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