<< Voltar

REELEIÇÃO: DO QUE FOI, DO QUE SERÁ

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

Aos leitores: não há neste artigo quaisquer juízos de valor com referência à política, apenas esforço analítico sobre os tempos políticos atuais. Compreender é procurar entender.

 

Dos muitos traços institucionais que se tornam difíceis de serem apagados com borracha nos escritos de nossa trajetória histórica, a Reforma Política é a que mais desdenha da democracia. Mexendo aqui e ali, um reparo lá, um rabisco cá, parece que o Congresso Nacional tem o lema de piorar para os eleitores e privilegiar aos políticos.

Quando da modernização tardia do Estado Brasileiro, com a estabilidade política e a estabilidade econômica no decorrer da década de 1990, ficou estabelecida a possibilidade de reeleição como forma de se gerar políticas públicas mais estáveis. Com continuidade de governos, as políticas implantadas tenderiam a se fixar de tal modo no cotidiano político que se perpetuariam na vida das pessoas.

Por um lado, a descontinuidade de governos gerava descontinuidades de política posto que cada prefeito, governador e presidente pretendia “ficar” na história como memória singular do povo. Para essa meta, a primeira medida era tratar o passado como seu adversário e considerar o presente como a chance da eternização política pessoal. Vaidade que destrói, que desconstrói.

A reeleição fez com que a personificação de governos se desmanchasse em políticas de Estado. Ajustados os cenários e os personagens, políticas de saúde, medidas educacionais, conquistas em assistência social poderiam gerar condições estruturais de nascimento de cidadãos e cidadania. Por um tempo os resultados pareciam promissores.

Com o correr do tempo foram os governantes que se acomodaram na reeleição para poderem prolongar sua estada em ambientes de poder. E uma das mais deletérias ações políticas se “consagrou” em aumento quase ilimitado de “comissionados” que se agrupam em torno do poder, menos por sua capacidade técnica e mais por seu aroma eleitoral. Comissionados pelo dinheiro de impostos, “contribuições” e taxas, se alojam numa relação de dependência e cooptação, que se consolidam como capital eleitoral subordinado ao cargo.

A reeleição passou a ser um entrave ao desenvolvimento de políticas de Estado ao se converter em arranjos públicos de interesse partidário. Originalmente emblema de Políticas de Estado, atualmente passou a produzir “patologias à democracia”, aumentando ainda mais o fosso entre o castelo de poder político e a vida apressada das pessoas que correm para existirem e pagarem suas contas.

A reeleição e suas caras atuais se tornou o ralo a desaguar os interesses públicos e, ao mesmo tempo, uma fonte de recursos políticos e financeiros para políticos e seus seletivos grupos eleitorais. Ralo que aumenta a vazão com elevação do fundo eleitoral, fundo partidário. Fundos profundos e seletivos! Há de se fazer reforma política, mas as mãos que assinam os projetos ainda não são seguras à cidadania quando asseguram privilégios.

 

Crédito de Imagem: Google imagem.

 

A EXITUS COMUNICAÇÃO & PESQUISA terá uma novidade em breve. O Professor EDUARDO GUERINI se tornou o mais novo integrante da EXITUS e passará a publicar seus artigos sobre Economia Política, Democracia e Estado nas quintas-feiras. Passaremos a ampliar nossas atividades de pesquisa e assessoria com a reconhecida competência do Professor EDUARDO GUERINI. Aguardem!!



Assine nossa newsletter

Insira o seu e-mail e receba novidades