POLÍTICA, VIDA, MEDOS E ESTOICISMO
JANUÁRIO, Sérgio S.
Mestre em Sociologia Política
A vida é social, feita de substâncias encontradas nas relações sociais. Sabemos que o controle da maioria dos componentes das interações sociais está fora de alcance dos indivíduos. Sabemos que o tempo das coisas e das relações, as disposições e pré-disposições sociais são invisíveis – estão além da extensão dos olhos. As vontades e quereres particulares apenas se juntam no amontoado cruzado do mundo social. É este que organiza e, muitas vezes, delimita as motivações singulares.
A felicidade se encontra na prática das virtudes: sabedoria para perceber e discernir os caminhos da vida e do cotidiano; coragem para se admitir pequenino integrante das coisas e das relações; moderação para agir com respeito em relação aos outros e ao mundo externo a si mesmo; justiça para, além de si e de seus desejos, entender o certo-errado, bem-mal, bom-ruim. Esta é a orientação do Estoicismo, Escola Filosófica do século III a.C., a pregar a necessidade de se viver em harmonia com as leis da natureza e com o que não pode ser mudado por nossa vontade individual. O mundo fora de nós não se submete ao nosso interesse.
O Estoicismo imprime que cada um de nós pode viver orientado pela razão e utilizar as emoções como força autodisciplinada e racionalizada em relação aos eventos que nos são externos. Colocar as emoções antes da razão é uma forma de egoísmo descontrolado, prepotência fraquejada, arrogância isolacionista. A luta é interna, na busca de ponderações e moderações para viver em felicidade. Os traços com os quais se rabiscam as escritas do caráter são essenciais para se viver em fortune.
Enfrentar seus medos [na maioria das vezes fundados em coisas que não são reais ou que não podemos controlar] e ter sabedoria para enfrentar a dor e adversidades são necessidades para interagir com o mundo pelas possibilidades limitadas de nossa existência particular. O que indicamos existir nos outros são gritos sobre como somos por dentro: aquele que ri da disciplina mostra de si a dificuldade de se organizar; quando desdenha dos impulsos e motivações dos indivíduos de seu convívio, talvez tenha murchado no escuro no primeiro tropeço; quando tenta minar a confiança do outro, pinta em traços claros sua própria insegurança e, por desespero, tenta puxar alguém junto; ao diminuir o caráter de alguém, revela os passos de falcatruas repetidas que deixou como traço de falta de respeito e ética.
Precipitamos para o lado de fora o que não sabemos controlar e nomear por dentro. Para esconder o que somos por dentro, atacamos logo as virtudes daqueles que as manifestam. As verdades que não evitamos são aquelas mais íntimas. As críticas tão comuns e abusivas aos que nos envolvem, montada em cavalarias emocionais a deslocar a razão e o autocontrole, demonstra a dor de querer ser tão corajoso, disciplinado, consistente, confiável. O julgamento ácido é, muitas vezes, um apelo de cuidado ante os ressentimentos e angústias costurados desde a infância.
Por muitas vezes precisamos de heróis que possam nos proteger. O primeiro passo é se dispor nas relações pela modéstia, humildade e carinho: atos de grandeza. O herói, depois da boa ação, se disfarça para não ser herói, um vivente comum que traz em sua capa seus próprios problemas. Os políticos, candidatos e as disposições e pré-disposições da armadura política requerem heróis com modéstia, simplicidade, serventia, liderança não opressiva. Para votar em alguém é preciso ser Estoico. Para receber o voto de alguém é preciso ser Estoico.
Sugestão de Trilha Sonora: I CANNOT BELIEVE IT’S TRUE
Artista: PHIL COLLINS
Autor: PHIL COLLINS
Álbum: HELLO I MUST BE GOING
Ano de Lançamento: 1983
Crédito de Imagem: AUTOR