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PODER QUE LEVANTA, FORÇA QUE FAZ CAIR

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

O PODER é um instrumento que utilizamos; não nos pertence. Não é meu, não é seu. Quando morremos ele fica. Poder se exerce, não se possui, não é propriedade. Até mesmo o poder carismático, exercido pela influência de um indivíduo em determinadas circunstâncias políticas ou sociais, existirá em outros indivíduos. Ninguém, em carne e osso, é poderoso, mas apenas pratica poder.

O PODER se instala em instituições e, por acaso, um ser humano selecionado para ocupar tal posto poderá exercer o poder que pertence a estruturas sociais e políticas. Somente imbecis sociais ou débeis políticos poderão se imaginar o próprio poder. Neste caso, o PODER é alimento propositado para autoritarismos [pessoa que se imagina iluminado e superior] e totalitarismos [quando grupos se confundem com instituições como forma de controle e imposição]. Modo pelo qual o poder encarnado em indivíduos se transforma em perigo, morte, perseguição e limites para a ação política.

O PODER como capacidade de produzir efeitos, quando regulado por instituições, é o contorno necessário dos limites da ação. Se meus diretos se confundem com os seus e são limitados em legitimidade, alcance e abrangência pelas relações sociais e políticas [você não pode tudo justamente porque vive em companhia de outros], então o poder faz com que cada um exerça suas influências de forma limitada. Poder é limite.

Se alguém, em qualquer circunstância grita “Chega!”, revela sua mediocridade e sua incapacidade de influenciar os outros dentro de regras da ação do poder institucional. Procura, sem insolvência, fazer-se instituição, ser o poder e produz a ameaça como força. O Homem como objeto do poder, sujeitado pelo poder, no afã de se tornar o “ilimitado poderoso”, imagina-se a existência do poder. “Pobre vaidade de carne e osso chamada homem”(*).

PODER é, necessariamente, um ato relacional. Quando mediado por instituições, coloca regras que assinalam a capacidade de previsão dos fatos que se desdobram e dos resultados que se avalia decorrentes dos fatos. A importância de se ativar o poder por origens institucionais faz com que possamos nos energizar por um posicionamento ou por uma defesa, mas não pela força e pela ameaça.

Quando o PODER é a própria vontade do indivíduo, os processos de dominação, subordinação, violência se instalam em todos os níveis. Por esse tempo, largamente registrados na História da Humanidade a inclemência da tortura política sagra o bem e o mal, o “nós” e os “outros” [veja-se a livre interpretação das Leis Divinas pelo Cristianismo Medieval, o Despotismo Esclarecido operado por Reis e Filósofos Assessores de arsenal político, das Ditaduras Modernas nas quais indivíduos estabelecem suas vontades a todos...].

A Democracia exige o poder compartilhado e vigiado, limitado e controlado [prevendo a natureza autoritária humana]. PODER concentrado e a serviço da vontade de um, um qualquer, é a operação ditatorial mais perversa que afirma que a subordinação e o cabresto são a forma da solução dos problemas.

Nada pior para uma Nação do que o voluntarismo ditatorial, o conservadorismo meramente oposicionista ao diálogo político e à concertação social. O modelo de geração de acordos é infinitamente mais proveitoso do que uma única opressão política banhada em arrogância e incapacidade de representar os interesses, não seus, mas de uma sociedade.

É por isso e para isso que há eleições: para que nossos interesses e vontades se sobreponham aos interesses dos eleitos. Nesta fila, o meu e o seu interesses, estão no início e o dos eleitos no fim. Mas, no Brasil, de prefeito a Presidente, tudo isso está de cabeça para baixo.

É o PODER DAS INSTITUIÇÕES que nos levanta, e a FORÇA DA VONTADE INDIVIDUAL que nos faz cair. Como dizia meu pai, Manda quem sabe pedir, quem sabe conciliar, quem sabe ouvir.

 

(*) Álvaro de Campos, Heterônimo de Fernando Pessoa. Se te queres matar.

 

 

Sugestão de trilha sonora: Sobradinho

Artista: Sá & Guarabyra

Álbum: Pirão de Peixe com Pimenta

Data de lançamento: 1977

 

Imagem: Pinterest



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