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“PODE SEGUIR A TUA ESTRELA...”

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

Se as instituições mais fundamentais para a formação do indivíduo em sociedade se transformaram em instrumentos menos eficientes no decorrer dos anos para a “formatação” do ser social, outras formas de estruturação revelam nossa aventura e alguns de nossos valores. E a música é uma das instituições reveladoras de nossa forma de agir, pensar e sentir o mundo. Não como arte contemplativa apenas, mas como modo de inspirar nossos arranjos sociais.

Já na Idade Média, nos palácios dos nobres, as danças de salão, necessariamente em pares eram significativas para se entender como as hierarquias existentes na nobreza se constituíam, e os passos marcados e ritmados conformavam o estilo dos comportamentos políticos e alguns conteúdos dos elementos de superioridade e subordinação, das relações de gênero, dos compromissos políticos. E não é de estranhar que nossos parlamentares (vereadores e deputados) ainda hoje se tratam por nobres e fomentam as casas legislativas como se palácios fossem.

Nos processos de transformações da sociedade o Rock in Roll se manifestou por duas pontas principais. Uma delas é a condições de rebeldia como expressão da liberdade individual de pensamento e ação próprios da democracia moderna, ainda que fossem num espaço reservado sob determinado controle. Por outro lado, foi também a forma de organização da própria rebeldia e liberdade individual, expressos nos ambientes de espetáculos e shows. E uma das suas mais importantes expressões culturais é simbolizada no Woodstock (como elemento de contracultura da modernidade em busca de paz e retorno à vida com a natureza).

E no Brasil o transcorrer dos patamares da música combinam muito com os contextos políticos. Numa tentativa de “modernização cultural” nos anos cinquenta se buscou copiar o movimento americano de rock, com a intensidade de nossos artistas se denominarem por nomes em inglês.

Mais tarde surgiu um movimento interno de valorização do nacionalismo e crítica do contexto político nacional (Tropicália com Geraldo Vandré, Chico Buarque, Milton Nascimento, Gal Costa, Gilberto Gil, Caetano Veloso e tantos outros). Esse movimento organizou valores políticos, expos condutas autoritárias (de esquerda e de direita) e foi um marco na luta pela abertura democrática e formação de ideais ideológicos. Em boa parte, foi na arte musical (letras, músicas e interpretações) que se revelaram muitos desejos e “armas” para a luta política. E essa luta permaneceu intensa até o movimento das “Diretas Já!” (“Coração de Estudante” foi a canção marco desse período).

Já nos anos oitenta, com a liberdade a explodir no dia seguinte, foram as bandas nacionais de rock que “gritaram” nossa liberdade, numa revelação contra a ditadura. E o mais impressionante foram os nomes, todos a marcar debochadamente o momento, que caracterizaram o período em seu conjunto: “Kid Abelha e os Abóboras Selvagens”, “Paralamas do Sucesso”, “Ultraje a Rigor”, “Camisa de Vênus”, “Biquini Cavadão”, “Nenhum de Nós”, “Barão Vermelho”, “Inimigos do Rei”... Em todos esses casos, a manifestação era grupal (e até mesmo o consumo de drogas era combinado em grupo). Os indivíduos assumiam uma parte de seu pertencimento social nessas manifestações. Éramos grupos de pessoas físicas e reais.

Atualmente, o regime de comportamento é individualizado e cada membro pode ficar consigo mesmo por muito tempo dançando sozinho e vivendo a si mesmo. Músicas eletrônicas são expressões importantes do nosso estilo de vida, especialmente dos jovens que “caminham e dançam sozinhos na multidão”. E até mesmo o consumo de drogas é singular, cada um com sua porção.

Seguimos nossas estrelas, em anos atrás, em conjunto de pessoas que tinham identidade no coletivo. Atualmente, cada um segue a sua própria estrela num cenário celestialmente solitário. E essa é parte expressiva de “nossas” identidade social, “fantasiando segredos do ponto onde quer chegar. O teu futuro é duvidoso”.

 

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Bete Balanço é um filme brasileiro de 1984 escrito e dirigido por Lael Rodrigues e estrelado por Débora Bloch. O filme conta as aventuras e desventuras de Bete (Débora Bloch) ao deixar Minas Gerais à procura do sucesso como cantora no Rio de Janeiro. É a última faixa do terceiro álbum, Maior Abandonado de 1984, da banda de rock brasileiro Barão Vermelho. Marcada pelo seu balanço "funk", coisa que o Rolling Stones, uma das maiores influências da banda, estava fazendo também. Após Pro Dia Nascer Feliz virar um hit no Brasil, a banda foi convidada para compor e gravar o tema do filme Bete Balanço. Tornou-se a canção de maior sucesso da banda e um clássico do rock nacional, sendo a canção mais regravada do Barão Vermelho. Bete Balanço também foi interpretada por Cazuza em seu álbum O Poeta Está Vivo, em 1987.

Pode, ainda, ser uma excelente metáfora para a atual situação política do Brasil.

Clique e ouça: https://www.youtube.com/watch?v=_3GSxMcsjA4 

 

Fonte: [Google]

 

 

 



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