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PÁTRIA DE DESEMPREGADOS, DESALENTADOS E DESESPERANÇADOS

GUERINI, Eduardo

Mestre em Sociologia Política

Uma coisa é um país, outra um ajuntamento. Uma coisa é um país, outra um regimento. Uma coisa é um país, outra o confinamento [Que país é este? Affonso Romano de Santana]

 

Todos os meses, são divulgados dados sobre a flutuação de emprego no Brasil, Estados e principais municípios. A constatação elementar diante da estatística administrativa do sistema CAGED/RAIS, é que continuamos gerando mais desempregados do que empregados no sistema formal de contratação, em síntese, não existe mercado de trabalho, temos um mercado de desemprego.

Um dos aspectos mais nefastos da crise econômica que engendrada no país, resultado da recessão nos anos de 2015 e 2016, respectivamente com um PIB negativo de -3,55% e -3,31% com crescimento nos anos de 2017 e 2018, não superior a 1,2% ao ano, é o aprofundamento de pessoas buscando postos de trabalho com salários menores. A perspectiva para o ano de 2019, não superará 1%, ou seja, continuamos crescendo num ritmo muito lento, com setores produtivos estagnados, com parca contratação de trabalhadores formais. A explosão da informalidade, a subocupação, o desalento, é um dos fatores mais drásticos da incapacidade de rompermos o “ciclo vicioso” da pobreza e da desigualdade na atual conjuntura brasileira. Somos uma pátria de desocupados, desempregados, desalentados e desesperançosos.

No aspecto político, a sociedade demonstra sinais de exaustão e pessimismo, alicerçados em reformas estruturais que não produzem efeitos imediatos para o despertar dos investimentos privados, na elevação dos níveis de confiança e, principalmente, na reversão das expectativas com relação ao futuro brasileiro. O “espírito animal” do capitalismo periférico foi domesticado por acordos interessados e interesseiros forjados entre elites políticas corporativas e quadros partidários sem lastros na realidade social.

Nas diversas pesquisas de opinião pública, nos cenários prospectivos de confiança de empresários e consumidores, nos boletins semanais do Banco Central, a descrença se generaliza, fato que empareda o governo e seus ministros para soluções anticíclicas, tal como, a liberação do FGTS, que pouco alteram o quadro depressivo para desobstruir o cenário que movimente uma agenda econômica positiva. Se de um lado, a reforma da previdência animou o mercado no primeiro momento, o desarranjo político-partidário da aliança fragmentada formada na atual gestão, demonstra que falta um maestro para orquestrar os interesses difusos, possibilitando a formação de reformas sucessivas que modernizem uma nação polarizada.

A economia detona as perspectivas futuras, com um cardápio indigesto colocado na mesa do conjunto de brasileiros desempregados e miseráveis. A reversão das expectativas é condicionada por desinformação repassada costumeira pela mídia nacional e local, resultado da falta de compreensão das estatísticas do estoque de trabalhadores, flutuação de emprego e geração de emprego. Em muitos casos, os jornalistas, na condição de trabalhadores submetidos aos interesses do editor, pautam sua interpretação, no enredo de “empreendedores do entusiasmo”, tal como se traduz no jargão econômico de “fada de confiança”.

Não bastasse a recessão dos últimos anos, o crescimento pífio nos anos seguintes, a falta de um projeto de nação, evidenciando políticas macroeconômicas em prol da geração de emprego e renda, os dados contraídos do investimento público e privado, são potencializados por mudanças estruturais no mundo do trabalho. Assim, todo o otimismo que se construiu em torno do novo governo se traduziu na desesperança latente na sociedade brasileira.

Em recente estudo da OCDE, sobre mobilidade social brasileira, 60% dos brasileiros mais pobres pensa que seu esforço não é o bastante para alcançar uma vida mais confortável, e, 35% dos filhos de pais posicionados no quintal mais pobre termina a vida na mesma condição social. Em síntese, as condições socioeconômicas em sucessivos governos progressistas ou não, impedem a ascensão social dos brasileiros, elevando a desesperança e desalento com o futuro do Brasil. Na sociedade polarizada com fratura social exposta, a vastidão de trabalhadores informais e precarizados, manifesta seu desejo de sair do país. O êxodo verde-amarelo é alternativa acalentada por 43% da população adulta, subindo para 62% entre os jovens de 16 a 24 anos. Para os brasileiros com ensino superior, o percentual chega a 56%, nas classes A/B é de 51%.

Os brasileiros vivem num beco sem saída, polarizado por milhões de fundamentalistas de alcova que liquidificam os argumentos para um pacto social, corroendo as perspectivas políticas para um projeto de país. Para acelerar o elevador de ascensão social, a OCDE sugere a melhoria no gasto público, principalmente nas áreas de educação e saúde, a qualificação dos desempregados, a redistribuição de renda com aumento do gasto social para os cidadãos mais vulneráveis. Inegavelmente, a rota das contrarreformas adotadas em favor dos agentes de mercado pelo governo e sua coalizão conservadora, indica que estamos na contramão do desenvolvimento. Eis a formação de uma pátria de desalentados com a bandeira da desesperança. Continuamos semeando promessas e vento, com boca de tempestade.

 

 

 

Crédito da imagem: Google imagens



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