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PARTIDOS POLÍTICOS: QUANDO CHEGAMOS AO FIM E CONTINUAMOS CAMINHANDO.

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

MEDEIROS, Daniella

Jornalista

 

Há muito que estamos observando as mudanças de nomes de partidos sem quaisquer alterações de comportamento político ou de organização partidária. Tudo isso é tão transformador quanto as formas segundo as quais escolhemos nossos candidatos, quanto os critérios de avaliação sobre o comportamento dos políticos – eleitos ou não. O comportamento eleitoral não mudou, os representantes eleitos mantêm as mesmas performances. No fundo e no raso, nossa cultura política e eleitoral continuam as mesmas.

E não adianta afirmar que tais avaliações, argumentações e análises não servem para todos pois sempre há exceções. Mas as exceções não fazem valer nossos interesses, não resultam em transformações, não ganham votações no Congresso Nacional.

Nestes últimos dias mais lances de “mudanças sem alteração”. Partidos velhos com nomes novos: PTN se tornara PODEMOS, numa nítida confluência do “we can” [slogan de campanha do Partido Democrata norte-americano] reimpresso na Espanha em 2014 em síntese de esquerda ideológica, e o PTdoB será AVANTE.

O curioso é que desde o Partido Rede Sustentabilidade, as estratégias de marketing e produção de aceitação (ou diminuição de rejeição) as identidades nominais dos partidos buscam recursos fora dos padrões de alinhamentos ideológicos. Mesmo porque, como diria Faoro, nem mesmo liberais somos. Somos patrimonialistas (1). Os partidos políticos continuam funcionando para si mesmos, com seus dirigentes proprietários, com suas cúpulas deterministas, com suas elites autoritárias [são fartos os casos de intervenção de dirigentes estaduais ou federais para formação top-down de interesses de cúpula].

Mais um grande problema para a oxigenação política é o fato de que são os partidos que escolhem os candidatos que podemos escolher. A primeira eleição, e talvez a mais importante, é aquela realizada pelos partidos para a escolha dos candidatos que concorrerão aos cargos eletivos. Para vereadores, em grande medida, vale carregar o partido de muitos candidatos para se obter dois efeitos: garantir que outros não os levem, ainda que a maioria dos candidatos não tenha nenhum fôlego eleitoral, e, por consequência, que determinado partido ou coligação obtenha o maior volume possível de votos. Não por suas representações ou ideologias, mas por uma simples contabilidade eleitoral.

As coligações partidárias em tempos de eleições se constituem como a continuidade do desastre de cultura política. Uma conjunção de membros que se digladiavam e que, num súbito acordar numa manhã qualquer, passam a se defender e acumular elogios. Os confrontos devastadores se concretizam em união. Frágeis por sua natureza e fundamento ocasional.

Em seguida, os partidos perdem sua importância estratégica de representação de interesses, e declaram sua validade apenas de organização de seus próprios interesses com ausência de estatuto programático, quando se alinham em bancadas de representação de interesses. Bancada da bola, ruralista, religiosa... Os partidos somem da linha do horizonte político.

Enquanto prevalecer tais regras e regulamentos que definem a forma de jogar o jogo, a equipe de eleitores sempre iniciará sua peleia perdendo de muito a zero. Da forma como estruturamos nosso caminho, é desanimador perceber que já chegamos ao fim e continuamos caminhando em círculos. É animador acreditar que podemos mudar motivados pela crise política, crise de representação, crise de resultados.

 

 

(1) “O Estado torna-se uma empresa do príncipe, que intervém em tudo, empresário audacioso, exposto a muitos riscos por amor à riqueza e à glória. Empresa de paz e empresa de guerra (...). O PATRIMONIALISMO, organização política básica, fecha-se sobre si próprio com o estamento, de caráter marcadamente burocrático. Burocracia não no sentido moderno, como aparelhamento racional, mas da apropriação do cargo – o cargo carregado de poder próprio, articulado com o príncipe, sem a anulação da esfera própria de competência” (FAORO, R. OS DONOS DO PODER: formação do patronato político brasileiro. 3ª ed. rev.; São Paulo, Globo, 2001. p. 40 e 77)

 

 

 

 

 

Crédito da imagem: Trabalho do chargista Genildo Ronchi. Colaborador do site Humor Político



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