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OPINIÃO E ARGUMENTO

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

Aos leitores: não há neste artigo quaisquer juízos de valor com referência a qualquer fato ou pessoa em especial, apenas esforço analítico sobre os tempos políticos atuais. Compreender é procurar entender.

 

Por várias vezes num mesmo dia você e eu recebemos um conjunto de opiniões sobre o mundo e as coisas. Opinião é o impulso elementar, temperado com ingredientes da lógica, para qualquer pessoa apresentar sua forma de ver, perceber e julgar o mundo e as pessoas que lhes rodeiam.

Na base do “cada um tem a sua”, a opinião passa rápido pelos corredores da paixão e pelas portas do ego. Não é necessário realizar qualquer interpretação mais cuidadosa ou fazer um arranjo mais equilibrado entre parâmetros, variáveis, categorias, teorias [ação de contemplar a criação, que nasce fora do indivíduo] para se opinar. Opinião é apresentada num quadro pessoal e individual de acordo com “o que EU acho”.

A subjetividade é o tijolo que faz nascer a opinião, e daí passamos a conhecer as identidades e formas de existência social e política dos indivíduos. Pela forma como cada um se mostra e se dispõe sobre o mundo e as coisas é que podemos dizer que tal indivíduo é “assim” ou “assado”. E a opinião está tão intensamente vinculada à subjetividade ou ao indivíduo que pode ser mudada rapidamente, sem muitas consequências ao seu redor. É como um rearranjo dos tijolos, mas não da parede. Aquela opinião sucumbirá quando seu portador se for.

Se você estiver interessado em um argumento então é preciso mais esforço e dedicação em busca do que não se poderia fazer por si mesmo, sem a ajuda de outros meios [livros, jornais, revistas, palestras, cursos...]. Para se construir um argumento é preciso compreender um tanto de história das coisas e das pessoas, com temperos de conceitos e teorias [não precisa “comer” dez livros...] e um bocado de alicerces que, combinados, geram fundações e pilares à reflexão [reflexo do externo].

Um argumento, para ser criticado, precisará de um outro argumento e não cindirá para quaisquer opiniões. Como pertence a teorias e conceitos, e lavado pelas pessoas, o argumento sempre surgirá como externo ao indivíduo: os fatos falam. O argumento terá sua identidade e morada localizadas na história, nas teorias, nos livros, embora tenha que ser carregado pelas pessoas. O argumento permanecerá ativo mesmo quando da morte de um de seus defensores pois vive fora do ego. O argumento requer objetividade: não há um argumento para cada indivíduo.

Na política, todos têm opinião – e devem ter. Cada um de nós tem o que dizer sobre a política que nos embala e nos enrola. Contudo, como numa guerra, a opinião pode levar a derrocadas ou perdas irreparáveis. Mais do que opiniões, no momento de se tomar decisões, é elementar atentar aos argumentos. Decidir não poderá se estabelecer pelo “o que EU acho”, mas como as coisas aconteceram até então.

O argumento tem seu próprio coração.

 

 

Música: Língua

Artista: Caetano Veloso

Álbum: Velô

Data de lançamento: 1984

Crédito da Imagem: Pinterest



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