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O SAL DA TERRA E O VAPOR BONDADE

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

Da crise surge atos de solidariedade e bondade. Excelente!! As pessoas, enquanto unidades sociais e por viverem associadas umas às outras, provocam em si mesmas a boa atitude da dádiva. A solidariedade cresce na borbulha do quanto vale e dispensa o quanto custa.

Se alguém, por qualquer razão, reivindica para si uma troca ou o reconhecimento pelo ato solidário, deixa de sê-lo e ingressa na necessária compensação. Como troca a solidariedade e a bondade se evaporam como água fervente.

É um ato de excelência moral que alguns queiram ajudar outros – de cór, de core, de coração – em momentos de dificuldades. Merecem aplausos desde que não os peçam. Desde a reivindicação de uma praça para que todos se beneficiem até atitudes de doação de recursos materiais e financeiros, a bondade persiste na simplicidade. Viva!

Mas quando pensamos em instituições políticas, sobretudo em momentos críticos como o que estamos a passar, a condição sai do individual e recorre ao coletivo. Em termos institucionais será apenas passageiro o fato de agentes políticos [de vereadores a senadores] defenderem causas de diminuição temporária de salários.

Do ponto de vista estrutural, reconhecido o ato dos indivíduos, devemos – devemos mesmo – reconsiderar e mudar a forma de funcionamento cara e ineficiente da política em nossa vida. Mais do que doações, desejamos que a “política em ação” seja menos dispendiosa. Sem ingenuidade, sabemos, todos, que a política tem custo. Mas como cidadãos, sabemos, todos, que a democracia é de graça.

É hora de reivindicarmos a diminuição de cargos comissionados [de livre e pessoal escolha dos eleitos, como coisas pagas com recursos públicos – literalmente com o dinheiro dos outros. Câmaras de Vereadores, Assembleias Legislativas e Congresso Nacional, com todos os seus comissionados e com todos os adereços e privilégios de renda, com um metro de distância entre cada um para evitar a contaminação, poderiam cobrir a extensão territorial nacional algumas vezes.

Se é para fazer política de verdade, vereadores e senadores que se propõem a ajudar como bondade individual reduzindo seus salários e benefícios, deveriam se dedicar a reduzir, de forma permanente, os custos da máquina “pública”.

Agradecemos e reconhecemos a altivez de atos de solidariedade de cada um. Mas, como sal da terra, precisamos mais do que solidariedade: queremos que o custo da política seja estruturalmente diminuído e que os recursos sejam acumulados para tratar do futuro das pessoas [educação] e de suas condições atuais de vida [saúde].

Do seu sal-ário, como doação pessoal, ainda que eventual, agradecemos. Como política pública, desejamos que a vida nos ofereça cidadania de verdade. Que sua bondade vereador, se transforme em política pública. E que a democracia não seja o estrondo e a explosão como se fosse um anjo caído.

 

Sugestão de trilha sonora:  STAY [FARAWAY, SO CLOSE]

Artista: U2

Álbum: Zooropa

Data de lançamento: 1993

Crédito imagem e audiovisual: Pinterest e Youtube



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