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“O QUE NÃO PODE SER O QUE NÃO É”

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

O movimento para se definir um conceito tem, como primeiro passo, uma “limpeza de terreno” ou um recorte ainda impreciso de um tema. Procura-se separar o que não é, sobre o que não se trata. O passo seguinte é uma tentativa de se aproximar do que se quer conceituar; é o passo sobre o que se pretende compreender. E isso serve para qualquer pensamento lógico, na medida que “argumentar com uma pessoa que renunciou ao uso da razão é como aplicar remédios em pessoas mortas” (Paine, T.homas).

Um dos problemas que incorre quando se tenta entender algo é o fato de se ter poucas evidências sobre o fenômeno ou quando o mesmo está em fase de “se fazer”. E este é o caso do processo político a que chamamos momentaneamente de “Nova Política”.

Tudo o que temos é o fato de a “Nova Política” se pretender arqueiro nas ameias contra a “Velha Política”. Esta ainda persiste e está fundamentada pelo Patrimonialismo que caracteriza nossa cultura política, nossa pequena democracia formal, o desastroso fato de assumir o coletivo como pessoal e de transforma o público em privado. A “Velha Política”, que é entendida como “Velha” pela postura de um desejosa “Nova Política”, vive e resiste às tentativas de ser derrubada e evidencia seus instintos de sobrevivência.

As evidências do Patrimonialismo ou da “Velha Política” se acumulam pela quantidade de Cargos Comissionados em Câmaras de Vereadores, Assembleias Legislativas, Congresso Nacional, Prefeituras, Governos Estaduais e Governos Federais. Um conjunto de cargos que serve para favorecer políticos não eleitos, filiados de partidos, operadores eleitorais, amigos, parentes... E que servem pouco à sociedade, ainda que salários e benefícios sejam pagos por cada um de nós. E assusta-nos observar Parlamentares (vereadores, deputados estaduais e federais, senadores) fazerem declarações sobre Reformas Administrativas de diminuição de cargos e do peso do Estado para a sociedade sem sequer lembrar dos inchaços de seus gabinetes e dos custos elevados de SEUS mandatos.

A “Nova Política”, por ainda não ser, só poderá existir em seu contraponto – o que não quer ser ou o que quer combater. É sobre as sombras da “Velha Política” que a “Nova” pode ser observada. O caminho que se trilha é ainda dos “primeiros passos” para tornar mais claro o que não deseja ser. É a própria “Política de Enfrentamento” que esboça o conteúdo inicial de sua definição.

A “Política de Enfrentamento” que formou quase todo o conteúdo da campanha presidencial do PSL e que se firma em comportamentos e sinais do atual Governo, equivale a enfrentar o passado imediato. Um passado aquecido na memória de todos, simbolizado e concretizado pelo PT, por políticas de troca-de-votos-por-cargos, por apadrinhamento de Partidos-Amigos, pelo aparelhamento do Estado com um exército de defensores...

Não temos ainda a “Nova Política”. O que existe é uma luta contra a “Velha Política” e os principais patrocinadores se estabelecem nas redes sociais que faz aguda a guerra entre os combatentes. O vigor do combate reside nos duelos suados de xingamentos pelos defensores e acusadores, situação e oposição; dos que desafiam os erros do passado sem muita precisão do que se deve colocar no lugar; daqueles que defendem potenciais glórias do passado contra a falta de rumo do presente... A luta vale para dar circulação sanguínea ao corpo que caminha olhando para o passado, para combater e corrigir os erros tão caros ao país e seus “cidadãos”. Esta luta é a ressurreição de um motivo para o posicionamento político, para definir sobre o que lutar e contra quem lutar. Não é uma guerra para o futuro, pois, como toda a guerra, é contra um passado em um presente. Não é um Estado que procura um conjunto de políticas ao desenvolvimento social e econômico, mas um Estado que se esforça para recompor o presente, para “arrumar a casa”.

A “Nova Política” não é, porque ainda não pode ser!

 

PAINE, Thomas (1937-1809). Historiador Britânico radicado nos Estados Unidos. Autor de obras que estudam as mudanças sociais e políticas

Crédito de Imagem: https://desenhetudo.blogspot.com



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