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O “INIMIGO” MORA NO PASSADO

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

O ano de 2019 iniciou, mas 2018 parece não ter sido finalizado. Diante de tantos desafios ante aos nossos olhos, teremos um processo de enfrentamento do passado danoso que se assombrou sobre o país.

E esse processo está manifestado em várias ocasiões comunicacionais. A primeira delas decorre do processo eleitoral fartamente destacado pelo enfrentamento da campanha do atual presidente diante do petismo e suas marcas. A eleição presidencial, todos vimos, foi uma “guerra entre petismo e antipetismo”. E os combates alcançaram disputas acirradas entre membros de um mesmo grupo de parentesco com acusações morais maniqueístas: o bem contra o mal; o certo contra o errado.

Essa posição de combate ainda permanece no comportamento de muitos membros que integram o Governo Federal. A começar pelo Presidente, que usa a posição de torcedor de um time de futebol em oposição ao “último presidente” do Brasil: Lula [Dilma Rousseff e Michel Temer foram seus resultantes e figurantes menores]. O Ministro da Justiça é utilizado, inclusive por opositores, como personagem “justiceiro” contra os petistas que, inclusive, tentaram colocar suas deliberações como Juiz sob suspeita, sem nenhum sucesso. Isso apenas reforçou os componentes antipetistas.

As demandas e esforços anticorrupção colocadas na agenda governamental são indicadas como enfrentamento ao resultado do último estágio do caminhar da história política brasileira [Governo de Inclusão e Desenvolvimento Social iniciado por Lula e cambaleante diante dos “pecados cleptômanos”, antecedido pelo estágio de Modernização do Estado Brasileiro com Fernando Henrique Cardoso, com estabilidade política, fundada na Lei de Responsabilidade Fiscal e Reeleição, e estabilidade econômica, baseada na URV-Plano Real].

Os momentos atuais remetem à necessidade de “arrumar a casa” com atenção sensível “às sujeiras” e “às desordens cometidas contra os princípios republicanos”. O atual Governo estará voltado a ajustar suas energias para atos de “correção de rumo”. A agenda de trabalho é simples de ser montada, mas extremamente difícil de ser efetivada porque depende de suas relações institucionais com membros do Congresso Nacional [dependentes de “narcóticos políticos” do patrimonialismo – torna privado e pessoal o que é público e coletivo].

Os desafios do atual Governo são herculanos, com membros altamente preparados para “arrumar a casa” e montar um governo pós-Lula inaugurador de um novo tempo político. Por outro lado, é um governo lego. Enquanto um monta, outro desmonta. É um governo sem identidade política formada [talvez seja exatamente essa sua identidade]. É um governo cuja orientação está no passado a ser vencido politicamente [pois que a vitória eleitoral é apenas uma etapa – vencer as eleições é a parte menos difícil no processo institucional. Vencer na política – obter legitimidade social e política – é o mais difícil].

Preocupa-me discutir e repercutir o secundário, os fatos que são peças mal encaixadas, e deixar de lado o fundamental. Este é um governo que se fará contra o passado marcado por “fantasmas que rangem dentes e arrastam correntes”. E é necessário que assim o sejam. Definido o inimigo político de todos os dias, o Governo caminhará olhando para trás; sua orientação está no passado. Não será um Governo de Desenvolvimento, nem sua agenda será a Política Social. Será necessariamente um governo de ajustes. Ajustes necessários.

E todo esse contexto político precisa ser compreendido em sua profundidade social, política e eleitoral, pois será a matriz das eleições municipais que oxigenarão os pulmões políticos locais. A história política recente é um espelho.

 

 

Trilha sonora indicada: Tempo Rei

Artista: Gilberto Gil

Álbum: Raça Humana

Ano de lançamento: 1984

 

 

 

Créditos imagem e vídeo: Google imagens/ youtube.

 

 



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