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NO REINO DE “TÃO, TÃO DISTANTE”

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

Talvez as eleições de 2018 sejam as que mais se distanciam dos interesses, motivações e convicções do eleitorado brasileiro. A primeira fonte para esta afirmação é estabelecida pela quantidade de votos no senhor “ninguém” [nenhum, branco, nulo, indeciso] que tem elevado toda a nossa carga de desapontamento político.

As pessoas – eleitores ou não – não estão mais interessadas e não dão a mínima atenção para discursos de comoção da história pessoal de candidatos, suas dificuldades e suas emoções lacrimosas, que experimentaram até o momento de se candidatarem aos cargos de presidente, governador, senador, deputado estadual ou federal. “Dificuldade por dificuldade, fico com as minhas”, como dizem muitos eleitores. As lágrimas não geram encantamentos fáceis.

Para os eleitores, os meios políticos não parecem permitir que os “bem-intencionados” candidatos possam fazer diferente. As circunstâncias são muito difíceis para aqueles que, no momento de serem absorvidos pelos espíritos republicanos, muito provavelmente serão avassalados pelo sistema de compromissos, trocas, privilégios, autocracia... E ao permanecerem na luta republicana, serão colocados de lado pelo próprio sistema de operações políticas que não lhes fornecerá nenhuma viabilidade de representação.

Os discursos no qual se baseiam muitos candidatos de apresentarem proposta de caráter pessoal [ser amigo das pessoas, cuidador dos cidadãos...] não têm sensibilizado os eleitores. Quando os discursos tateiam promessas de luta por direitos, guerra pela justiça... e tudo o que o valha, os eleitores já não percebem quaisquer diferenças com os candidatos de outras eleições.

As esperanças não serão veiculadas por promessas e comportamentos eleitorais que se dão no mesmo estilo de ontem, quando ainda estávamos a construir um modelo de Estado, com apelo ao Estado de Direito ainda pouco consolidado [vejam-se os personalismos do STF]; ou quando conseguimos solidificar estabilidade política que pode ser representada por regras de limites à autocracia no final dos anos 1990 [Lei de Responsabilidade Fiscal]; ou quando alcançamos estabilidade econômica com a passagem dos planos econômicos de emergência para política econômica de Estado [URV e Plano Real].

As condutas esperadas são de mudanças institucionais. Mudanças que possam reformar o Estado e retirar os “vírus e bactérias oportunistas” que assombram o corpo nacional por privilegiarem seus oportunismos corporativistas. A Constituição de 1988, remendada por interesses de pequenos grupos que legalizam o imoral e o aético, não pode mais carregar privilégios como princípio. E isso não depende de comparações com as necessidades das pessoas que não alcançam direitos sobre a educação sua e de seus filhos, sua saúde e de sua família.

Nossa República, que pouco tem de público nas coisas, surge de uma nação sem povo. Agora, os que desejam ser representantes desse povo inexistente estão percebendo que o povo de fato sumiu. Os eleitores de antes se transformaram em ausentes de hoje, em interessados em outros políticos e em outro Estado. O senhor “ninguém”, candidato da maioria dos eleitores, é o maior e mais representativo apelo da população para que as formas e os conteúdos de representação política sejam definitivamente transformados. Os candidatos devem deixar de acreditar tanto em si mesmos, como sendo o remédio para toda a esperança de vida, e acreditarem mais nas pessoas que estão a enxergar no senhor “ninguém” sua própria dignidade. Esta é a eleição para se preencher cargos de um reino “Tão, Tão Distante”... Longe, muito longe do eleitor.

Nossa Democracia, que surgiu torta e sem povo, fraca e faminta, só poderá ser revigorada quando se enxergar no espelho, ver a si mesma e reconhecer seus desajustes. Essa tarefa é nossa! Vem aí as AULESTRAS EXITUS! Aguarde!

 

 

Crédito da imagem: Ilusão de ótica / google imagens.



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