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NEPOTES E O FLAGELO DA CIDADANIA

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

Não é de hoje – e nem terminará amanhã – as formas patrimonialistas que estão presentes em nossa cultura política. E tal cultura política não se dá apenas pelos governantes, mas pela aceitação dos governados como afirmação das “regras dos jogos políticos”. Jogo no qual o cidadão deverá ser o juiz, entendendo com precisão as regras e aplicando-as com o rigor necessário. Mas, de rodada em rodada, os brasileiros são apenas plateia e torcida, e enquanto não se tornarem cidadãos não poderão ser os juízes.

Patrimonialismo, como valor e prática de assumir o público como privado e o coletivo como pessoal, fica expresso na arrogância das decisões “monocráticas” dos gestores públicos [parlamentares, executivos e judiciário] que governam pela sua consciência pessoal e individual e desconsideram os princípios republicanos mais superficiais.

A arrogância dos dirigentes políticos [de todos os âmbitos de governo] é ainda mais perniciosa, mais nociva e perigosa ao espírito republicano pelo nepotismo que surge dos modos mais variados. Filhos, cônjuges, cunhados e todos os nepotes que se acoplam à gestão pública pelas mãos dos dirigentes públicos são necessariamente resultantes de práticas imorais para todo e qualquer defensor da “res pública” como coisa pública [sic].

O Nepotismo é um mal por si mesmo em relação à democracia e não poderá ser defendido por argumentos de competência, escassez de profissionais, baixa diversidade familiar em grupos sociais, confiabilidade pessoal etc. Essa prática tão cotidiana quanto autoritária são os trajes de uma autoridade que nomeia parentes para prestação de serviços públicos que possam promover o prestígio familiar por poder de decisão política, aumento de renda ou pelo controle de uma máquina pública... E as “boas intenções” não podem suportar os princípios da Boa Política. Ainda que fossem os melhores e únicos profissionais para ocupar algum cargo público, pela condição de parentesco não poderiam acessar a posições e informações governamentais. Isso para aqueles que pura e simplesmente defendem um Estado com valores republicanos. Pura e simplesmente!

Nepotismo não pode ser conjugado com valores e princípios de cidadania. Uma prefeitura, ou um Governo de Estado ou uma Presidência da República ou quaisquer gabinetes de Casas Parlamentares não podem ser tomadas como um lugar de um grupo familiar. Um gabinete de um legislador ou uma secretaria de governo é um ambiente privativo para fins do exercício da função, mas necessariamente público para suas operações e suas finalidades.

Que sejam filhos de presidentes ou cunhados de prefeitos, os princípios de cidadania e república não podem ser adormecidos por arranjos de patronato de parentesco. A defesa de uma Nova Política – a Política de Enfrentamento arremessada pelos resultados eleitorais mais recentes –, baseada em necessidades antigas como valores, mas novas enquanto práticas, terá na ponta das flechas os interesses de bem-estar coletivo.

Como juízes eleitorais e praticantes da Política de Enfrentamento, os votantes poderão reivindicar a necessidade de se tornarem cidadãos, quando, pelo voto como arma, observarem como alvo a tirania do nepotismo e de seus tiranos políticos desavergonhados. Essa é a forma que sobra para a plateia e torcida que sempre paga a conta de privilégios e de privilegiados. Entre eles os nepotes de todas as estruturas de parentesco. 

 

 

 

 

Sugestão de trilha sonora: Família

Artista: Titãs

Álbum: Cabeça Dinossauro

Data de lançamento: 1986

Versão acústica

""Acústico MTV é o segundo álbum ao vivo e o primeiro Acústico MTV da banda brasileira de rock Titãs, gravado em 6 e 7 de Março de 1997 no Teatro João Caetano. É considerado um dos discos mais importantes da história do Rock nacional, atingido a certificação de platina, com mais que 1.700.000 discos vendidos"" Fonte: Rodrigo Braga / youtube

 

 

 

Crédito da imagem: google imagens

 



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