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NASCER COM SEXO, CRESCER COM GÊNERO

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

Entre tantas aflições que nos atingem em nossos desejos de estabelecer uma democracia, não raro surge e ressurge o machismo como linguagem para definir uma luta de difícil avanço em nossa sociedade. Alguns, ao tentarem criticar o machismo como conduta, ao fim e ao cabo, não fazem mais do que derrubar sua própria crítica. Não há porque sustentar uma crítica ao machismo utilizando-se do feminismo superficial para se desejar avançar na democracia de gênero.

Não é porque a mulher ou o homem é mais “isso” ou “aquilo” que ela/ele poderia se tornar melhor ou pior para algumas condutas. E na política – como forma de conduzir a sociedade, ou nos partidos políticos – como modo de criar planos para essa condução, ou em quaisquer circunstâncias as primazias de gênero são infrutíferas à democracia de gênero.

Mulheres e homens apresentam diferenças biológicas que formam a espécie, como em quase todos os casos da vida. “Está mais na cara que nariz” que tais diferenças resultam em algumas condições específicas sobre a vida e seus efeitos cotidianos. Não é por acaso que há especialidades médicas somente para homens, e outras somente para as mulheres. Ainda, essas diferenças podem gerar (e geram) formas diferentes de perceber o mundo.

De outro lado, é a forma segundo a qual mulheres e homens são “constituídos” para a sociedade e na sociedade que define as condições de desigualdade política e social. De forma geral, as diferenças biológicas são utilizadas como tentativa de legitimar desigualdades sociais e ferem a altivez de uma sociedade que luta por igualdade.

Homem ou mulher são especiais justamente porque são biologicamente diferentes. São as diferenças biológicas que carregam e perduram a espécie. Mas suas especialidades não são legítimas para tornar-se um deles superior ao outro, porque esse agir pertence ao “mundo da política” e, portanto, é não-natural. A igualdade (ou o desejo de igualdade) é uma construção política, de fundamento cultural.

É fundamental que homens e mulheres consigam preencher os espaços políticos pura e simplesmente porque as diversidades políticas e sociais sobre o mundo são princípios da construção democrática. As mulheres como grupo, inclusive, divergem entre si. Os homens como grupo, inclusive, divergem entre si. E é a divergência que faz a democracia andar.

Os membros de uma sociedade e suas divergências são causa e consequência de nossos avanços políticos, e também das nossas “patinadas” sociais. Quando uma sociedade é considerada machista é porque homens e mulheres deixaram de divergir sobre o papel de gênero na vida social. E homens e mulheres, ao concordarem e reproduzirem um conjunto de valores, formam a identidade dessa mesma sociedade machista.

Mulheres e homens não são politica e socialmente melhores. São diferentes, mas não desiguais. Para se buscar a “igualdade” (como desejo) é preciso colocar as pessoas (quem dera cidadãos) a divergirem com respeito político e sobriedade social. Assim, e somente assim, podemos nos conhecer para nos transformar. Sem se conhecer o que se é, é impraticável saber porque e para que se transformar.

  

 

Trilha Sonora  indicada para este artigo: 

 

 

 

Crédito da imagem: As ilustracoes feministas de Layse Almada. 



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