<< Voltar

MUDANÇAS E PROMESSAS

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

Tenho a sensação de que o ano de 2020 não acabou [talvez nem tenha começado] e que 2021 é uma alegoria matemática ou apenas um registro cronológico. Apesar disso, sempre depositamos algum fervor em mudar. Passa ano e entra ano e nós nos desejamos melhores para os tempos que virão.

É uma garantia manifesta que mudanças são operações que podem vir de fora de nós mesmos [interiorização do que nos é exterior] ou vir de dentro [exteriorização do que vem de nosso interior]. Nossa vida e nossas relações são marcadas profundamente por este “campo de energia” [interiorização e exteriorização].

Uma guerra, uma enchente prolongada, uma devastação na agricultura, um terremoto, ou mesmo uma pandemia viral alteram nossa forma de sentir, pensar e agir. São coisas exteriores a cada um de nós, e pelo processo de interiorização desses fenômenos, nosso semblante estará mudado para sempre. Ou ainda aqueles apelos de atração mágica, como usar roupas de cores determinadas para provocar atração de energia pré-codificada por farturas, amor, felicidade, paz... Talvez cores e roupas não carreguem em si tanta força mágica, mas acreditar que por tal associação algo de bom pode acontecer, poderíamos até mover nossas atitudes em direções diferentes. Vale a fé!

Quando de um corte no tempo, como acontece com os registros de passagem de ano, muitos de nós passa a prometer-se mudanças. Aquelas mudanças que nascem de dentro de nós e devem alterar nosso curso de vida e, oxalá, nossa visão sobre a vida. Prometemos fazer coisas que desejamos profundamente, mas que até o momento não fizemos.

Ninguém promete mudar o mundo exterior, ninguém diz que provocará a paz entre as nações, que manifestará ações coletivas para alimentos saudáveis, que participará das grandes mudanças necessárias em educação... A unidade de transformação é íntima e pessoal. As mudanças que serão transformadoras, neste mundo pessoal, necessitam mais do que boa vontade na maioria dos casos.

As grandes mudanças pessoais requerem, primeiro, procurar se conhecer. O conhecimento de si não é nada fácil e, fundamentalmente, é feito com ajuda de outros. Mas o primeiro ato de mudança é querer, desejar se conhecer. Muito provavelmente, a nossa grande prisão sobre a vida está em nossa caminhada realizada sobre bençãos ou truculências nas relações mais primárias. Provavelmente quando, para caminhar, você e eu precisávamos ou de apoios ou de ajuda de adultos.

As grades que nos afligem, as algemas que nos afivelam ou os açoites que nos ardem não serão superados por avelãs, ondas ou roupas. Nossa prisão vital, em geral, está nas dificuldades e medos que produzimos em nós mesmos e descarregamos nos outros. Nosso sofrimento e nossa libertação estão na fé de nos descobrirmos.

Feito isso, tiramos de nossas costas os pesos insuportáveis e que nos levam ao escuro da vida de nossa infância, no quarto fechado, como um castigo que parece ser maior do que nossa própria vontade e nossa vida. Mudar é travar uma boa guerra consigo mesmo. Mudemos!

 

Sugestão de Trilha Sonora: SEREIA

Artista: LULU SANTOS

Álbum: EU E MEMÊ, MEMÊ E EU

Data de Lançamento: 1995

Crédito de Imagem: Pinterest



Assine nossa newsletter

Insira o seu e-mail e receba novidades