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LIBERDADE JUVENIL E SOLIDÃO SENIL

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

A cada dia convivemos com formas e conteúdos que revelam e refletem “distâncias sociais” cada vez mais intensas. Quanto mais nos vimos “falando” por meio de redes sociais virtuais, menos próximos estamos. E nossos problemas alcançam formas também de isolamento.

Talvez o mais drástico das distâncias sejam as “patologias de con-vivência” segundo as quais seus “prisioneiros” estariam incapacitados a terem outras relações sociais de compartilhamento e solidariedade. Hoje, a liberdade que tivemos e temos aos 18 ou 25 ou 35 anos, se transforma em solidão aos 40 anos ou mais. Tudo isso porque perdemos a capacidade de fazermos amigos e cultivar amizades (aquelas que compartilham gargalhadas e choram angústias); ou porque deixamos de lado compromissos e comprometimentos sociais relativamente duradouros.

Quando a família (com a formação que seja preferida pelos que se amam), a religião (ou igreja, com sua liderança moral), a escola (e os professores como seus expoentes sociais de carne e osso), a comunidade (com sua capacidade de exercer controle social sobre os indivíduos com a vigilância sobre os comportamentos) e o trabalho (com o desafio de resultados materiais e hierarquias), quando cada uma delas deixa de comunicar seus valores sociais e políticos para nossa vida social, temos somente a nós mesmos. Uma sensação de que estamos solitários numa multidão cujos membros parecem caminhar sem rumo ou meta.

Por isso, foram as empresas, na ponta da trajetória da formação social, que tiveram que assumir as tarefas incompletas ou não iniciadas por outras instituições. Localizados no setor de recrutamento com o fim de estabelecer a “negociação” entre valores individuais e valores organizacionais das empresas, especialistas assumem responsabilidades de interpretações sobre as dificuldades de relacionamento grupal e de se assumir hierarquias. Aquelas que deveriam ser formadas na família, na religião, na escola, na comunidade, no trabalho.

Há registros, corretos e oportunamente expostos, cujo conteúdo revela que a tarefa primorosa da escola é ensinar primeiro, e de educar depois. Porque educação é algo cuja origem é de várias organizações sociais. E isso revela que precisamos retomar a ideia segundo a qual educar é necessariamente inserir as pessoas em convívios sociais diretos, de co-presença, nas praças como espaços de con-vivência, além das que existem nas redes sociais.

A comunicação é mais do que mensagens curtas de voz ou de palavras. As “turmas” de convivência de bairro não se aproximam minimamente dos “grupos de redes sociais” e as formas de olhar, as expressões faciais, os toques, as gargalhadas são socialmente educativas (para mais ou para menos).

Diante das responsabilidades que se nos aparecem na adolescência e na primeira fase adulta, gritamos a favor de nossa liberdade de ser e querer e preferir – na base do “eu sou assim”, “cada um com seu problema”. E quando chegamos aos quarenta, cinquenta ou sessenta anos, passamos a colher o melhor da juventude, da primeira fase adulta e lutamos a favor da vida com sonhos e metas como se fôssemos eternos. Ou nos vimos como solitários, isolados e incapacitados para uma nova fase da vida e lutamos contra nossas dificuldades de viver, e mesmo contra a morte. Na medida em que avançamos na vida, revelamos mais quem somos como comunidade e sociedade. Melhor abrir nossos olhos para vislumbrar o que queremos amanhã. E ainda que a vida seja biologicamente curta, é socialmente infinita.

 

 

 

Crédito da imagem: Jean Jullien

Um ilustrador francês radicado em Londres.

Criador de uma série de imagens com mensagens sobre a atualidade, mudanças de hábitos e como convivemos com as atuais tecnologias.

Através de suas ilustrações podemos questionar os hábitos, que no dia a dia parecem corriqueiros, mas que nos desconectam do que realmente é importante, principalmente quando se trata da era digital.

 

 

Fonte:  

http://www.hypeness.com.br/2015/05/ilustrador-frances-faz-criticas-a-sociedade/

 

 

 

 

 



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