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GOVERNO: LA MALICE

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

Aos leitores: não há neste artigo quaisquer juízos de valor com referência à política, apenas esforço analítico sobre os tempos políticos atuais. Compreender é procurar entender.

“É a verdade o que assombra/ O descaso o que condena/ A estupidez o que destrói/ Eu vejo tudo que se foi/ E o que não existe mais/ Tenho os sentidos já dormentes/ O corpo quer, a alma entende/ Esta é a terra de ninguém/ E sei que devo resistir/ Eu quero a espada em minhas mãos”

 

O Governo Federal atual, sob comando do Presidente Jair Bolsonaro, parece impossibilitado de agir com coordenação suficiente para se concentrar apenas em projetos de desenvolvimento econômico, social, ambiental e político nacionais.

Muitos escorregões foram dados em menos de um ano de gestão. Ou talvez seja a própria tentativa de se mudar a forma de “fazer política” e de se “fazer gestão”: improvável, mas celebremos a dúvida como produtora de boas perguntas.

O Ministro da Justiça, Sérgio Moro, que outrora foi o símbolo de sustentação ética e moral do governo, hoje se encontra sem apoio político dentro do próprio governo e fustigado por diálogos não-republicanos. O Ministro da Economia, Paulo Guedes, tem lutado quase solitariamente para organizar acordos e arranjos capaz de propiciar aprovação de reformas econômicas no Congresso Nacional. É pela articulação mais do Congresso do que do Governo, que projetos tem “andado” para um lado ou para outro no Parlamento.

Outras condutas são reveladoras da natureza institucional “corda bamba” da Presidência da República: a forma de tratamento sobre a morte de Felipe Santa Cruz foi uma “bala política perdida” que atingiu as formas de relacionamento institucional; as queimadas na Amazônia foram pavio de pólvora entre governo e institutos organizados em torno da defesa e planejamento ambiental, e chamuscaram relações internacionais; as declarações nas Organizações das Nações Unidas [unidas, repita-se] foram precipitadas pelo surrealismo hiperbólico; as idas e vindas com os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal deixaram lastros de lesmas que vagam em lugares úmidos; o dedo em riste apontando para as eleições na Argentina foram, no mínimo, inapropriadas; as recentes frustrações sobre o petróleo poluidor do litoral brasileiro e a capacidade de respostas governamentais refletiram a falta de justeza operacional em momentos críticos; a indicação de Eduardo Bolsonaro, pela condição singular de ser filho do Presidente da República, foi alvo de insatisfações generalizadas dentro e fora do governo. Por fim, o PSL, desarticulado e fragmentado, antes aliado orgânico, agora crítico do cotidiano do Palácio do Planalto, não disfarça a insolvência partidária do governo.

Pelas redes sociais do reino virtual as intrigas, fofocas e desavenças têm atraído mais a atenção e exigido mais esforços do que a luta por aprovações de projetos e bom relacionamento institucional. E o apoio da população ao Governo Bolsonaro tem decaído com o passar do tempo, e já não mais algo incondicional: o aplauso agora requer explicação do apoiador.

Ainda que o futuro seja incerto, o Governo se mantém firmado pelo combate [manifesto no passado] contra o “socialismo” e a “esquerda”. Feito que foi para lutar e eliminar o PT e seus aliados, Bolsonaro tem realizado mais combate ideológico e partidário do que gestão pública e administrativa. Para muitos isso é suficiente. Mas para outros essa é uma temporada política de transição não efetivada pelo Governo Temer!

Na analogia de um período medieval, atravessaremos abismos e florestas, lutaremos em castelos para salvar princesas, ficaremos atentos ao sopro do dragão... Temporada que exigirá mais do que temos feito!

 

Sugestão de trilha sonora: Metal contra as Nuvens

Autor: Marcelo Bonfá, Renato Russo, Eduardo Villa Lobos

Álbum V – 1991

Imagem: Google imagem



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