GANHAR A ELEIÇÃO, VENCER NA POLÍTICA
JANUÁRIO, Sérgio S.
Mestre em Sociologia Política
Ufa!! Fora-se o período eleitoral. Uma etapa do “tempo da política” para a qual os eleitores são os principais convidados. Um tempo marcado por agudos e notícias intencionalmente falsas; com desafios estimulantes à compreensão sobre o comportamento político da população brasileira. Um país dividido, separado pelos símbolos mais estridentes. A eleição está no dia de ontem, e as angústias e a sensação de vitória nos rostos não revelam os compromissos assumidos por todos.
A Política de Enfrentamento exposta como fratura na eleição brasileira inaugura novas atitudes e posicionamentos do eleitorado. Destaca que não é mais suportável um Estado de Privilégios e penduricalhos, clientelismos e comissionados. Um Estado pesado e caro, ineficiente para resolver os problemas e voraz para cobrar impostos, taxas, contribuições e tributos.
Depois de experimentar suas esperanças em tantas promessas nunca cumpridas [porque os problemas continuam no mesmo lugar] e em planos de governo curiosos [que reivindicavam o trabalho como sua marca de campanha], o eleitor foi o protagonista. Votou pela história recente e não pelas propagandas eleitorais. O eleitor mudou seu comportamento e instalou novos parâmetros para a vida política. Viva!!
Mas a política ainda não mudou. O voto não foi para os Bolsonaros, mas encaminhado para a possibilidade de mudar a política do compadrio, do “clube de aliados amigos” e de “servilismos comissionados”. O eleitorado enfrentou a agora velha política, mas ainda não inaugurou o novo tempo do Estado brasileiro.
Quem ganhou a eleição cumpriu como vitorioso uma etapa. Os desafios que se lhes apresentam são de outra grandeza e levará o cotidiano governamental à conquista ou à derrota política. A despeito da legitimidade formal eleitoral, a legitimidade política ainda terá que ser construída. Os eleitos somente serão celebrados frente à população cumprindo os papéis para os quais foram escalados: mudar a forma de governar; diminuir ou eliminar o “clube de aliados amigos”, o “ servilismo comissionado” e os compadrios de privilégios.
O eleitor nunca foi tão protagonista político! Foi capaz de votar por determinações de suas experiências eleitorais. Depois de tantas eleições, seu posicionamento deixou de lado e zombou dos planos de governo, das promessas envelhecidas, da beleza das artes cênicas eleitorais; dos debates ocos, ou de afirmações intencionalmente mentirosas. O eleitor se fortaleceu como instituição política e seu senso de enfrentamento está baseado na Fadiga Política: uma máquina que range suas engrenagens ao se movimentar, que funciona muito mal.
Não teremos um país fascista [em qualquer de suas elasticidades de sentido], ou um golpe de Estado; não teremos um país cujas instituições serão colocadas no bolso do paletó de algum ditador de oportunidades. Nossas instituições políticas, religiosas, econômicas, sociais e morais têm força suficiente para enfrentar quaisquer loucuras de quaisquer loucos: de “direita” ou de “esquerda” ou como queiram se autoidentificar. Continuaremos votando, pagando impostos, consumindo, indo às aulas e ao trabalho. O cotidiano de todos os dias seguirá seus dias, com uma diferença aqui e outra ali. Não estamos em crise institucional, mas de representatividade política e de moral na política.
A política pode deixar de trazer as lembranças das Capitanias Hereditárias e abrir suas arestas ao enfrentamento do patrimonialismo. O recado, aos berros eleitorais, fora entregue por escrito [resultados] aos eleitos e aos derrotados. A resposta que se aguarda não poderá tardar a se mostrar minimamente acalorada. E o acerto de contas que se fez nas urnas projetou os parâmetros das próximas eleições municipais. Os papéis foram invertidos: o eleitor é “quem tem a força” e os candidatos terão que se transformar. E não haverá mais espaços largos e longos para promessas empoeiradas. No cardápio da esperança eleitoral a alimentação do eleitor poderá ser servida com molhos de Iluminismos políticos.
Crédito da imagem: Google imagens // Crédito do vídeo da música "É" de Gonzaguinha: youtube.