FLANANDO NA REALIDADE BRASILEIRA
GUERINI, Eduardo
Mestre em Sociologia Política
Os políticos usam os economistas como os bêbados usam o poste, mais para apoiar do que para iluminar (Alan Blinder)
A conjuntura política brasileira continua polarizada pelo excesso de querelas, intrigas e lutas fratricidas em torno da figura presidencial e sua “entourage familiar”. Entre falas descontroladas, entendimentos cifrados da realidade econômica, o “estado normal” do trato político que o presidente dispensa aos partidos, as instituições, os agentes econômicos, e, sua equipe ministerial é a retratação de sujeito que usa do “excludente de ilicitude” para defender a forma de ver a república e seus atores político-sociais. Entre um “descontrole emocional”, uma “destilada verborrágica”, logo a seguir vem o pedido de desculpas ou a negação da negação.
Nos solavancos populistas, nas falas simplórias, o entendimento quase pueril para assuntos econômicos, denota o afastamento presidencial para os temas espinhosos de uma área dominada por “experts” do mercado, e, da própria ciência. As decisões foram delegadas para o “Posto Ipiranga” ultraliberal que pretende seguir na agenda reformista privatizante, com mudança nas aposentadorias e pensões, nos direitos sociais, nos fundos constitucionais, no pacto federativo, na estrutura tributária.
O apoio majoritário no processo eleitoral ao projeto disruptivo e neoliberalizante, não deixa dúvidas que o “choque liberal” do Ministro da Economia chegaria com todo vigor. Pena que, o obstáculo corporativo das forças que comandam o cenário econômico e político nas últimas décadas refrearam o ímpeto mudancista.
Com oposição débil no Congresso Nacional, o presidente e sua base, continua titubeando nas disputas intestinas e comezinhas, fruto da vaidade personalista, reflexo de líderes populistas que são tragados pela massa de insatisfeitos nos momentos conjunturais econômicos críticos, tal qual, a maior recessão da história republicana brasileira recente, com queda do produto interno bruto vertiginosa, corroendo as expectativas de crescimento médio do PIB, na segunda década do século XXI , ao patamar irrisório de 0,9% ao ano.
Os partidários do otimismo reformista do novo governo apostam na nova rodada de cortes da taxa SELIC, agora no patamar mais baixo desde que passou a ser utilizada como instrumento de política monetária, em 1999. A redução da taxa para 5% ao ano, prevê ainda um piso para tais cortes, na casa dos 4% ao ano. A renovação das mínimas históricas, resulta de um contexto de fraco crescimento da economia nacional, queda de juros em países desenvolvidos e emergentes, previsão de desaceleração global, alto nível de ociosidade dos setores produtivos, elevado desemprego estrutural e subocupação da mão de obra.
A estimativa para inflação no cenário prospectivo é que fique abaixo do centro da meta até 2021. A taxa de câmbio oscilará na casa dos R$ 4,05, frente a tendência mundial de desaceleração global, excesso de liquidez, e, queda na taxa de juros dos Bancos Centrais como políticas anticíclicas.
O risco-país, indicador que mede a atração de estrangeiros, termômetro informal da confiança dos investidores em relação as economias dos países emergentes, chegou ao patamar mais baixo desde 2013, lembrando que, perdemos o grau de investimento entre 2015 e 2016, resultado da recessão que se agravou com crescente dívida pública, limitando o investimento estatal.
A incerteza econômica, fruto da desconfiança dos agentes econômicos com a capacidade do governo elaborar uma agenda positiva, visto que, é um gerador de instabilidade política, eleva o desalento dos brasileiros, ingrediente para um enredo polarizado de paixões cegas, com movimentos fragmentados e acantonados na mediocridade virtual.
Neste cenário, flanando sobre a realidade brasileira, o prognóstico fulcral é de elevação da turbulência econômica com incerteza política, reduzindo a capacidade de despertar “o espírito animal” do empresariado diante de uma expectativa de juros remuneratórios reais tão baixos em nossa conjuntura, excesso de liquidez, e, demanda efetiva baixa. Para os desavisados da história econômica mundial, em outubro de 1929, o “crash da Bolsa” prenunciou a Grande Depressão, justamente num momento de otimismo elevado e confiança no crescimento da economia americana. Nosso instinto periférico para resolver problemas estruturais com velhos modelos, associada a ideologia de “curto prazismo”, denota a sanha das elites políticas e econômicas, que “chega ao ponto de cortar a cauda do diabo e escrever Mefisto em vez de Mefistófeles”, como afirmou Schopenhauer. Realmente, “O diabo mora nos detalhes"!
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