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ESPANTALHOS PÁSSAROS

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

Não será fácil! Teremos a radicalização de uma sociedade dividida desde quando PT e PSDB iniciaram a guerrilha política de contrapor seus êxitos e sucessos pela decadência e fracasso de seu opositor. A malha política é tramada por fios de acusação ao inimigo e os candidatos são emblemas de heróis para venceram bandidos; méritos surgem na comparação da desgraça alheia.

Este maniqueísmo fez com que ninguém pudesse caminhar por si mesmo. Cada um alavanca suas pernas com muletas oposicionistas que rangem com o menor apoio. Nenhum dos lados pode ser bom e adequado o suficiente, por si mesmos ou por seus projetos. Só se fazem vivos ao destacarem defeitos, “maldades” e “magias” em seu adversário.

“Ele Não”, seja quem for “ele”, representa a ambiciosa luta pelo poder político, capaz de “ajustar cargos bem remunerados”, criar “redes de dependências estruturadas”, gerar filas de “clientelismos por cargos comissionados” e controlar orçamentos em bilhões e bilhões de reais...

O instante atualizado não é mais do que “a velha roupa colorida”, muito surrada de outrora. Estamos a repetir tantos cenários anteriores, nos esforçamos a travar as mesmas lutas tantas vezes, mas nunca paramos para tentar entender o conteúdo das guerrilhas políticas, disfarçado no tempo. O que temos diante de nós não é uma luta entre candidatos à Presidência da República, mas um intenso arranjo, cada dia mais ruidoso e acumulador de violência simbólica e prática, formadora de valores autoritários e desencadeadores de manifestações asfixiantes ao próprio aprendizado.

A luta de hoje não será a solução de amanhã porque não estamos a acender luzes para o dia depois de amanhã. Nossa minguada democracia, que se traja em farrapos e que caminha sem cidadãos, não terá nenhum de seus problemas resolvidos a partir de 07/10 [dia da eleição]. E isso porque não paramos para entender o problema. Deixar para trás um candidato não terá a virtude de andar para frente na política. Independentemente de quem seja “ele”.

O horror de uma eleição se encontra no papel que representa o eleitor: um espantalho de palha que tenta assustar os tiranos pássaros predadores. Sustentado numa vara de bambu, ao relento, chuvas, sol, vento, é escumilha. Sabemos qual candidato não queremos, mas não sabemos o que sustenta nossa posição em favor de alguém [não contra “outros”, e não pelo que já fez] ao considerarmos os fundamentos de uma eleição.

Votar contra um candidato ou outro desfaz o elementar da existência de uma eleição: rediscutir o caminho a ser seguido e rever os programas a serem implantados. Uma eleição tem o fundamental caráter de uma revisão, reconsideração, ajustes, .... É um fenômeno extraordinário e de importância solar em nosso sistema político. Mas tem servido como um teatro para meio de acesso ao poder. Estamos diante de um longo eclipse político e dentro dele.

Usamos o “depois” para adiar a necessária atitude de encontrarmos pontos de saída aos nossos infortúnios. No nosso adiamento não encontramos nenhum plano, nenhum programa, nenhuma organização. Nosso depois não é um programa de vida política, mas uma aversão a algo no presente; não se revigora. Em nossos atos políticos não há um futuro, mas uma luta contra o medo de hoje. E quanto mais radicalizado hoje, pior o resultado amanhã.

Nossa Democracia, que surgiu torta e sem povo, fraca e faminta, só poderá ser revigorada quando se enxergar no espelho, ver a si mesma e reconhecer seus desajustes. Essa tarefa é nossa! Vem aí as AULESTRAS EXITUS! Aguarde!

*Escumilha [chumbinho de arma de caça de pássaros]

 

 

Crédito da imagem: misteriosfantasticos.blogspot.com

 

 



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