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EQUAÇÕES MATEMÁTICAS DE CADA DIA

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

Aos leitores: não há neste artigo quaisquer juízos de valor com referência à política, apenas esforço analítico sobre os tempos políticos atuais. Compreender é procurar entender.

 

Todos aqueles que já se aproximaram um pouquinho da história da Filosofia encontraram afirmações segundo as quais todo e qualquer filósofo era, antes de tudo, um matemático. Não um matemático como entendemos hoje: estatístico, financista, estudioso de álgebra ou topologia modernas.

O Filósofo grego, como cada um de nós hoje, torna-se um Mathematikós pela condição elementar do pensamento lógico e fundamental da racionalidade humana: a integração e a separação. É por essa razão [efeito de uma operação, resultado lógico entre duas grandezas] que aquele que não aprende matemática terá insuperáveis obstáculos para viver em sociedade.

O Mathema é a capacidade de apreender as coisas, de incorporar racionalmente o mundo ao nosso redor [o que inclui os outros humanos] pela capacidade lógica de racionalidade. Não seria possível vivermos tal como vivemos se não compreendêssemos o mundo pelos movimentos abstratos de separação/estratificação e integração/conjunção.

É interessante observar que os fundamentos da Sociedade Romana expressos nos números Romanos [I, II, III, IIII, V, VI, VII, VIII, VIIII, X] implica em assumir que as existências não têm sua versão contrária. Para os Romanos não há o não-fato, somente o fato; não há o negativo, somente o positivo; não há a morte, mas o além-vida ou a eternidade. Por isso o relógio cuco originalmente é organizado com números romanos: o tempo só pode ser e quando não é, foi perdido.

A forma de Mathematica que utilizamos atualmente é constituída pela formulação arábica [...-4, -3, -2, -1, 0, 1, 2, 3, 4...]. Este Mathema implica em entendermos que para tudo o que existe há a correspondência de seu exato-contrário [tudo-nada, nunca-sempre, amor-ódio, vida-morte, público-privado]. Isso diz respeito à formulação da estrutura lógica da língua que falamos e a forma de classificação das coisas. Até mesmo os sentimentos são compreendidos por categorias de intensidade desse Mathema [muito-pouco, mais-menos, ótimo-péssimo].

Porém, tão importante quanto é a compreensão de fórmulas aparentemente simples que guardam a estrutura de nossa formação social e política, é entendermos como essas operações mathematikas possibilitam nossa forma de vida social e política. A operação “1+1=2” traz em si a fórmula de experimentação da vida como a vemos; ela serve como lentes para iluminar a nós e ao que nos rodeia. A primeira compreensão é que as parcelas não são o resultado/razão, mas fundamentos para tais resultados.

A união entre duas pessoas, como no casamento, pode ser apenas a afirmação das unidades “1+1” que ainda estão separados, que somam suas individualidades e não formam a parceria: cada um escolhe uma parte sem resultar na conjunção de ambos. Cada um aqui é uma parte que, a partir de si mesmo, age por egoísmo ou por hedonismo ou por necessidade de disputa e poder, sem a inclusão do outro em sua escolha. Encontra-se um resultado e não a conjunção das partes. Por isso, num casamento, há três entes: cada um dos integrantes e o casal, não necessariamente uma conjunção ou a mistura de cada parte. A expressão “=2” implica em unir primeiro as pessoas, conjugá-las, gerar um terceiro ente. Assim haverá a conjunção, a integração como composição de uma terceira unidade: a união das partes.

Quando passamos a pensar a política por parcelas que não operam em negociação, mas em conflito e confronto, uma disputa permanente, esquece-se do terceiro ente resultante: os representados, aqueles que desejam ser cidadãos. É da natureza da política o exercício de poder de decisão e de veto sobre projetos e sobre orçamentos. Mas este poder está separado em três ambientes distintos e relacionados [Executivo, Legislativo, Judiciário] que, na razão/resultado, expressa um país.

Portanto, a operação Mathema a ser executada para fins de conjunção de razão é a integração das parcelas. Posto que pelo enfrentamento das partes o resultado estará sempre menor do que poderia fazer-se existir pela sua operação equilibrada, logicamente razoável e com os olhos na expressão após o “=”.

A política, ainda que não utilize o rigor lógica das formas matemáticas e suas apreensões sobre o mundo, carrega em si a condição única de pensarmos e agirmos sobre o mundo e as coisas. Os ajustes das “fórmulas políticas” podem ser equilibrados em nome dos resultados, e não em nome das parcelas.

E ainda há a inversão do processo que constitui a fórmula lógica da política, com os eleitores defendendo os seus representantes, em desavenças e desaforos, inimizades e confrontos, quando os representantes deveriam nos defender. O desejo expresso de representação dos eleitores tem período certo e determinado para acontecer: processo eleitoral. Ali o candidato fica mansinho e o eleitor se torna poderoso. Bem curiosa esta “equação”.

 

Artista: Raul Seixas

Álbum: Há 10 mil anos atrás

Data de lançamento: 1976

Crédito da Imagem: Google Imagens



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