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ELEITORES, NÃO-CIDADÃOS

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

Aos leitores: não há neste artigo quaisquer juízos de valor com referência a qualquer fato ou pessoa em especial, apenas esforço analítico sobre os tempos políticos atuais. Compreender é procurar entender.

 

Há em nossa prática política muitos desvios em relação ao desejado mundo democrático e republicano. As aparências de vigor têm sido enganos operados com interesses pessoais. Numa simulada luta pelo bem, os famintos pela cidadania e esfomeados pela defesa do público e coletivo, recolhem migalhas que retardam a desnutrição dos mais valorosos princípios políticos. A classificação de posições políticas como “Oposição” e “Situação”, deixa em pele e osso a defesa dos interesses públicos.

Parlamentares, como vereadores, quando de “Oposição”, ‘sempre’ estarão a se contrapor ao governante de ocasião. Dos projetos e propostas que se lhes apareçam para discutir e votar, procuram logo, com lupa, pela sua fraqueza, vácuo, insuficiência. Nem que seja ortográfico. Deverá haver algo crítico em virtude de sua origem: o governo ou seus apoiadores.

Para a “Situação” o comportamento ‘é’ de subserviência. Por vir do governante-amigo ou alguém que lhe apoia, deverá ser defendido. ‘Não precisaria nem mesmo ser lido’ posto que a origem situacionista lhe provém qualidades. Uma rápida apresentação dos pontos fortes do projeto ou proposta será suficiente para o voto a favor. Não é de se espantar se o vínculo de voto esteja compensado por vagas comissionais no governo ocasional.

Qualquer parlamentar [vereador ou deputado estadual e federal ou senador] que se posicionar como “Situação” ou “Oposição” sempre o fará em relação ao governo. A população ou o interesse público servirão como explosivos argumentativos, jamais o princípio. E o ciclo tem se mantido, com prejuízos à política de qualidade. Mudam-se os eleitos, permanecem as práticas.

Nessa mesa não serão servidas porções de cidadania, pois o público não é fonte de energia para o preparo do alimento político. E nas taças ou copos não haverá suco de frutos republicanos, já que o combate não inclui a defesa das coisas públicas e coletivas. O público e seus interesses são sumariamente desconsiderados, esquecidos, intocados. Servem como artefatos manipuláveis, não como nutrição política.

Por ser “Oposição” ou “Situação” recorre-se a uma cegueira crítica sobre o mérito de projetos, sobre o senso de desenvolvimento, sobre a qualidade da política. Enquanto os interesses pessoais ou de pequenos grupos enforcarem o interesse público, não haverá possibilidade de se prover qualquer Política de Qualidade. Prevalecerá, como agora, a Política do Interesse pessoal, indiscreto e seletivo.

Mais do que candidatos, precisamos de Política de Qualidade, de Políticos de Qualidade, de Voto de Qualidade.

 

 

 

 

Sugestão de trilha sonora

 

Música: Loucos de Cara

Artista: Vitor Ramil

Álbum: Tango

Data de lançamento: 1987

Crédito da Imagem: google imagens / Salvador Dali

 

 

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