DESAFIOS, OBSTÁCULOS E ENFRENTAMENTOS
JANUÁRIO, Sérgio S.
Mestre em Sociologia Política
Nossa vida social está pautada pelo enfrentamento das dificuldades em todos os aspectos. Verbo pulverizado entre jornalistas e em todas as mídias, enfrentar é a forma de viver para tentar sobreviver a um conjunto de obstáculos. Enfrentar a semana ao abrir os olhos na segunda-feira, com todos os desafios que são colocados. E aí começa a nossa guerra particular.
Enfrentar o trânsito, suas amarras e a pouca solicitude dos motoristas: o primeiro sufoco. Desafiar a crise econômica e reagir às dificuldades que aparecem pelas desconfianças econômicas: um grande combate. Desafiar a insegurança pública, privada, pessoal e coletiva e andar para frente com cuidado: uma esperança de vencer.
Entre um café e outro, enfrentar a vida e todos os obstáculos para, ao fim do dia, obter a recompensa de ter ao menos tentado hoje e pavimentado o dia seguinte. Chegar em casa e largar um grande sorriso de se ter construído, com força, mais um dia de nossa história. Ufa!
E esse comportamento também marca a campanha eleitoral e o jeito de ser e estar do candidato Jair Bolsonaro [e não arrecadem aqui uma posição eleitoral ou uma tentativa de convencimento – só, e somente só, uma possibilidade sociológica de se compreender um momento importante da vida social e política]. Entre todos os candidatos, Bolsonaro tem se apresentado às sabatinas e palanques como quem enfrenta o que tem pela frente: jornalistas, adversários.
Na atitude de confronto e enfrentamento, a campanha vai tomando forma de quem está entregando ao eleitor um combatente, com estratégias bélicas e táticas de guerrilhas que ocorrem em cada esquina. Mesmo sem conhecer adequadamente os adversários a serem enfrentados, a marcha eleitoral está longe de ser uma parada militar. E já sabemos, após as eleições as lutas são pelo convencimento e “trocas”, e não pelo aniquilamento. Já na própria campanha, parte de seus militantes reproduzem as relações de confronto e, alguns casos, até de ameaças.
Comportamento próprio de quem se formou nas forças armadas, não há jornalista que consiga lhe retirar da conduta de confronto, como quem tivesse que vencer os adversários [economia, política, segurança etc.], e não convencer as pessoas por meio de um programa para reajustar o futuro do Brasil. Todos os outros reapresentam os suportes do candidato ideal, com ideias de apelo popular e com fixação em clientelismo eleitoral. É o convencimento que resulta em estelionato eleitoral. Entre o candidato idealizado e o Presidente real, as pontes ainda não foram construídas e fica cada um de um lado: Michel Temer que o diga.
O candidato Bolsonaro, passo a passo, montou um esquadrão feito de si mesmo, de sua formação militar e de sua forma de encarar o mundo como algo a ser vencido em combate com armas. Enquanto os outros candidatos trazem as mesmas fórmulas de luta que sempre nos visitam em períodos eleitorais, mas que se desfazem no ar na semana seguinte aos resultados das urnas, Bolsonaro enverga apenas sua forma de ser.
É pouco, muito pouco para um país que está imerso na formação de um Estado que corrompe a si mesmo, comendo suas partes, num ajuste de um Presidencialismo de Coalisão [nem Presidencialismo, nem Parlamentarismo] que não permite ao Presidente ser líder e que faz do Parlamento um gênero hipócrita que não reconhece a representação pela qual se constitui.
A falta de um Estado capaz de conduzir os eleitos, a ausência de Instituições Políticas fortes e orientadores das condutas de representantes da população, faz com que cada gestor se acredite como um salvador capaz de fazer, por sua própria vontade, a vontade de todos os outros: Autocracia. Registrado em nossa história política e cultura de representação, a projeção de “Provedores do Povo” gerou a situação atual.
Somente compreendendo nossa caminhada é que podemos distinguir nossas dificuldades imediatas. Somente, e somente nos reconhecendo como e o que somos, podemos criar distanciamentos pessoais e recorrer à nossa própria identidade, criticá-la e desejarmos ser diferentes.
De resto, sobrarão as lutas baixas e pouco construtivas das redes sociais numa arena de combate e numa situação de guerra sem vencedores. Não há Salvador da Pátria. Necessitamos de uma Reforma de Estado para que as instituições políticas se coloquem acima das preferências pessoais. Senão amanheceremos a cada segunda-feira para enfrentar a semana de todos os dias.
Vem aí as AULESTRAS EXITUS! Aguarde!
Crédito da imagem: Google imagens /// Vídeo: Clipe oficial da música: Um Só
Artista: Tribalistas // Álbum Tribalistas 2 (2017) // Composição: Arnaldo Antunes / Brás Antunes / Carlinhos Brown / Marisa Monte.