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DA difícil ARTE DE REPRESENTAR INTERESSES COLETIVOS

 

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

Em tempos recentes nunca se observou um ano pré-eleitoral de candidaturas à Presidência da República e Governo do Estado com tantos vazios. O cenário político-eleitoral, de fato, não é favorável para qualquer pré-candidato. E o momento também não é confortável para lançamento de candidaturas que mereçam o mínimo de seriedade em se perpetuarem e o respeito de quem deseja mudança, qualquer mudança!

O colapso eleitoral reside, em grande parte, na condição da representação política de interesses do eleitorado (estamos longe de pisar solos de cidadania). No vai e vem da rotina política, as mudanças eleitorais (apenas um mexe-mexe) estão orientadas ao proveito dos interesses dos partidos e dos políticos que estão em mandato.

Não são os interesses de uma população que estão em jogo quando se resistem às mínimas mudanças eleitorais que poderiam destacar o eleitor com alguma importância na vida política; não é o valor da cidadania que se expande quando se sobretaxa o consumidor com aumento de taxas e contribuições sobre o valor dos combustíveis, senão a capacidade de diminuir o “buraco financeiro do Estado”. Além de todos os desvios corruptivos desvendados nas Operações por parte da Justiça.

Todas as encenações de candidaturas estão baseadas na decepção com a política institucional de representação de interesses das pessoas ou do desassossego de se observar um Estado que se apoia numa Constituição lastreado de privilegiados setoriais. Se as intenções da Constituição de 1988 foram para nos livrar de um tipo de autoritarismo político que nos assombrava como fantasma puxando correntes e rangendo os dentes, seu conteúdo foi tomado por oportunistas que firmaram privilégios (benefícios de todas as ordens para políticos e seus comissionados).

Não será a moral religiosa que poderá nos abrir os olhos políticos, ainda que sejam fundamentais aos comportamentos morais em sociedade – conservadores ou não; portanto, quem se candidata não poderá ter livros sagrados em suas mãos para arrecadar votos. Nem o retrovisor focado num tempo de populismos e autoritarismos ditatoriais – de esquerda ou de direita sempre será autoritarismo, e sempre indesejável.

Caso pouco mude ou nada mude – o que é muito provável, teremos um dos piores momentos eleitorais no Brasil. Em tudo surgirá a decepção com os candidatos e a desesperança com os caminhos trilhados até então. E não é trocando nomes que se mudará os comportamentos de representação dos interesses nossos. Isso já fizemos! Em muitos casos temos uma nova geração de políticos prefeitos e políticos vereadores sem nada alterar no comportamento do que nos interessa. As reclamações e os resultados até então ou são os mesmos ou são ainda piores porque lançaram as esperanças às moscas.

Talvez, a nossa maior força em termos de comportamento político-eleitoral seja o voto nulo ou branco, num desfecho para se afirmar nossa indignação que nunca estará nas ruas, nas redes sociais, ou nos discursos de candidatos ou em outro lugar senão na urna eleitoral. Votar, mas por indignação. Candidatos terão que se desdobrar e mostrar que já foram mudanças ontem para serem mudanças amanhã. De esperança em gritos fervorosos em palanques eletrônicos não poderão manter nosso interesse. Se os políticos não mudam (seus comportamentos), nós mudamos (nosso posicionamento)! É hora de deixarmos nossas reclamações solidificadas em posicionamentos!

Obviamente sairão vencedores eleitorais, mas nenhum deles terá legitimidade política para falar quaisquer coisas e viverão pressionados por falta de legitimidade. Se vencem as eleições, perdem na política. Aos vencedores eleitorais, as batatas! (1)

 

 

 

(1) Adaptado da Obra Quincas Borba de Machado de Assis. Eis os ensinamentos ao amigo Rubião:

“Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais feitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”.

 

 



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