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CORRUPÇÃO E SOFRIMENTO HUMANO

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

Muitas vezes já não estranhamos e nem mesmo nos indignamos com a corrupção no Brasil, no Estado ou no município onde moramos. Originado do latim [cor, core + rupto] diz respeito às quebras dos elos da boa conduta. Parece que nunca nos abandonara, que sempre foi presente em nossa história, e que ficará fora de controle.

Os atos de corrupção expõem o tamanho de nosso Poço Político em termos de Espírito Republicano [afirmar como público as coisas públicas], de formação de Cidadania [o direito dos outros e do coletivo], da relevância das Instituições frente ao indivíduo, da defesa do Coletivo frente aos privilegiados ornamentais de cargos públicos.

Ao fim e ao cabo, a corrupção inaugura todos os dias as obras superfaturadas, o pedágio das trocas de vantagens entre governantes e empresários, o oportunismo revigorado em ações entre mui amigos, as concessões de serviços públicos por bônus particulares. Do outro lado, os que não fazem pactos de privilégios e vantagens têm que provar que em seus atos não há corrupção ou desvios planejados. Um tempo que sufoca a boa conduta.

Andamos em momentos em que as músicas são tocadas de traz para frente: quem tem a função de defender e preservar os interesses públicos faz justamente o contrário. O mistério da gestão é conduzir privilégios, vantagens e bens para os bolsos dos casacos largos e torná-los apropriação privada com imagem de bem-feitor. Surgem, nos murais das mídias, como pessoas de sucesso, capacitados ao êxito, forjados às vitórias, mas não são mais do que ladrões que se pintam de amigos e roubam durante o sono dos que lhe prestaram confiança.

E o lado mais açoitado pelo chicote de suas forjas são os mais dependentes de serviços governamentais: aqueles que dependem [dependem porque não lhes são reservados direitos e cidadania] de medicamentos, de serviços médicos e hospitalares que surgirão meses e meses depois, caso apareçam; ou aqueles que necessitam de escolas que não promovem seus futuros, mas que guardam os alunos enquanto os pais trabalham, reproduzindo as mesmas formas de vida em diferentes gerações; ou aqueles que necessitam de saneamento básico [muitas vezes apenas cobrir e tratar valas de esgoto] provedor de doenças e mal-estar.

A corrupção tem seu suporte mais sombrio na democracia, pois do demos [povo] se provoca a subjugação moral, a dependência material e a construção do “anjo maligno” que diz que, por ser poderoso, aceitará seu pedido e dependência em troca de voto e campanha: EU PREFEITO/A vou FAZER. Imperial, nunca se enxerga como servidor, mas como Déspota vingativo.

Enquanto não houver PARTICIPAÇÃO [espaços para influenciar as decisões ou até mesmo decidir] e, com esta, CONTROLE SOCIAL da gestão, cada um eleito se fará como o pior dos autocráticos: amigo de dia e ladrão à noite. E, de conversa para bovinos sonolentos, é inaceitável, intolerável e imperdoável querer justificar que o erro apareceu pela vontade de acertar.

Corrompe-se assim, com cara de pedra, o dinheiro que é público e o direito de cidadania que é coletivo. Eu e você não temos que pedir para sermos cidadãos [pedido que esfola a cidadania]. A corrupção rouba, primeiro, o senso de coletivo e público, e, por fim, o direito de ter direito. Desse jeito, o corrupto constrói o herói por causa da própria pobreza política que provoca.

 

Sugestão de trilha sonora: Chega

Artista: Gabriel, O Pensador

Álbum: Chega

Ano: 2016

 

- Créditos foto: Pinterest Brasil

- Créditos audiovisual: Youtube



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