CONSUMIR: UMA POSIÇÃO DE HIERARQUIA SOCIAL...
JANUÁRIO, Sérgio S.
Mestre em Sociologia Política
MEDEIROS, Daniella
Jornalista
Há um certo feitiço no ato de consumir bens que revelariam nossa posição social ou nosso status. E essa feitiçaria da mercadoria aparece como um resultado social: a distinção. Consumimos para nos diferenciarmos dos outros. Não queremos ser iguais aos outros. Queremos ser diferentes! Queremos ter sucesso! Queremos reconhecimento pessoal! Queremos ser destaque, tal qual a celebração necessária de “um destaque de escola de samba”. Queremos ser melhores frente ao que já existe. E todos os outros já existem!
Fiquemos tranquilos: isso não é uma desventura. As coisas que consumimos – bens ou serviços, indicam quem somos na sociedade. Portanto, as coisas que consumimos fazem a interação social. As coisas que compramos são meios para nos permitir acesso a outras pessoas, abrem portas a grupos sociais ou nos distanciam de outros grupos. Podemos mesmo dizer que a hierarquia de bens (o que temos) corresponde a uma hierarquia social (que posição social ocupamos).
Consumir está muito além da satisfação de nossas necessidades básicas, para vivermos com satisfação biológica. Consumir se refere, na maioria das vezes, à satisfação de nossas necessidades sociais. E quando não podemos comprar os produtos legítimos, imitamos o acesso adquirindo produtos falsificados ou de origem duvidosa. Assim, nos colocamos como integrantes (ainda que forasteiros) de determinados grupos de consumo.
Um produto não carrega em si seu valor de troca ou o quanto foi gasto para que ele exista. Mais do que isso, ele traz em si mesmo o valor de uso, o valor social de distinção que ele é capaz de promover. Se você possui um carro, este produto lhe trará alguma classificação social (o tipo de automóvel é uma classificação social). Há diferenças sociais brutais entre ser proprietário de uma Ferrari e um fusquinha mal conservado (e a própria expressão “fusquinha” já denota a forma de se encarar a situação social de seus proprietários).
A roupa que você usa também carrega informações de hierarquia social. Podemos até não nos preocuparmos muito com isso, mas tudo isso é revelador. Usar terno e gravata, por exemplo, é um indicador de posicionamento social. E quando isso não parece ser comum as brincadeiras dos amigos logo surgem.
Quando você vai comprar algo em uma loja, logo exige ser bem atendido, como num sistema de imposição de ser servido. O atendente deve lhe ser um servidor e só falar coisas boas e que lhe engrandeçam. É quase uma terapia pessoal. E não é incomum falar que quando algumas pessoas estão com problemas elas vão às compras em shopping e voltam mais felizes. Por isso consumir também é uma hierarquia de comando e mando na base de “o cliente sempre tem razão”. Nada melhor para nossa vaidade do que sempre ter razão.
No fim, consumir vale muito socialmente, ainda que possa custar muito dinheiro. E para que o mundo social possa fluir, para que possamos ir em frente, entramos no consumo de financiamentos. Para tudo há um cartão que pode permitir que você consuma hoje e satisfaça suas necessidades sociais – e isso vale muito, e pague depois – mesmo que isso lhe custe muito.
E antes que eu me esqueça, please like me!
Crédito da Imagem: Eduardo Salles / @sallesino