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CONHECIMENTO, SABER E DEMOCRACIA

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

A forma de conhecimento que usufruímos atualmente teve origem entre os gregos, muito antes de Cristo ter marcado um período histórico às nossas vidas. A virtude da filosofia grega permitiu que pudéssemos interpretar as reivindicações sobre Ética, Moral, Política geradas durante as peregrinações da origem cristã. Com a filosofia grega, os amigos e amantes do conhecimento procuraram compreender, interpretar, entender os fenômenos que faziam parte de suas vidas. O pensamento lógico, a racionalidade humana e o pensamento racional foram os pilares do conhecimento filosófico e, mais tarde, científico.

Nos impérios agrários [3.000 a.C.] os literatos da Mesopotâmia, do Japão e de outros lugares formavam uma um grupo de intelectuais voltados a atividades práticas sobre o mundo, os homens e as coisas. O conhecimento que não atribuísse resultados práticos não arrecadava interesses.

É em Platão e Aristóteles que encontramos um arranjo sistemático sobre o conhecimento social e político, sobre o homem como ser que produz valores e capital cultural. O homem é o único ser capaz de criar referências imateriais para sua existência, como o tempo social [passado, presente e futuro; antes e depois], sobre a morte e a vida, amor e ódio, tudo e nada, muito e pouco, sim e não; a compreensão da religião e da política, da Democracia e do Estado, Liberdade e Opressão. Enfim, sobre valores que incidem e permitem as formas das relações sociais e políticas. É por causa do modo de pensar e de existir que o homem deixa de ser um ser “natural” e passa a se constituir e a constituir um mundo social.

A primeira formação de autonomia intelectual surgiu da Filosofia, seguida da Mathematica e, por último, na ciência natural. O Mathema [apreender ou incorporar – colocar para dentro do corpo como os alimentos materiais que formam as estruturas físicas do homem] era, desde a Grécia, a base para o conhecimento. Por isso, considera-se que todo filósofo é, necessariamente, um Mathematico. Depois que você sabe algo sobre alguma coisa você não consegue não-saber, você não pode deixar em casa a estrutura de conhecimento aparentemente simples de 1+1=2.

Mais do que uma forma simples de alcançar um resultado, estão inscritos nessa operação métodos de composição e de decomposição, de separação e de união: o Mathema. É nesse método que podemos gerar todo e qualquer conhecimento, pois ele registra a forma segundo a qual pensamos e agimso sobre o mundo e as coisas, os homens e suas ações; a administração de empresas, a lógica de funcionamento da natureza, os regimes políticos e os ideais sociais. Apreender Mathematica é muito mais do que saber fazer contas: é a única forma de se integrar à sociedade. Quem não sabe contar não poderá viver minimamente em uma sociedade.

A Idade Média não criou uma nova forma de pensar, mas um novo modo de organizar e produzir conhecimento: as universidades. No período de 1.100 e 1.200 d.C., conseguiram autorização da Igreja ou do Estado para gerar e administrar uma instituição para formar professores e conhecimento. Iniciada com a segurança da Filosofia, além de um conhecimento como valor em si mesmo, foi um manifesto de inovação para a formação da sociedade.

A Ciência, como um conhecimento objetivo sobre “como o mundo é” e não como o desejamos que seja, pelas virtudes do conhecimento filosófico, se viu firmada em bases sociais que são mutáveis na história humana, diferente das leis da física cuja estabilidade lógica é bem mais longínqua.

Abrir mão do desenvolvimento e do investimento nas Ciências Sociais e na Filosofia é um desserviço ao desenvolvimento de um país, um atraso imediato sobre sua própria compreensão. Fazer Filosofia e fazer Sociologia, Ciência Política, Antropologia não é ficar olhando para o céu e pensar sem regras de método e sem aplicação social. Os ganhos são imensos e compreensíveis. Não é à toa que são os filósofos, sociólogos, cientistas políticos e antropólogos os que estão nas bancadas dos jornais e das redes sociais para interpretar os fatos sociais e políticos que se nos ocorrem.

Para entender a vida social e política em que vivemos, para compreender a pretensa Democracia e Cidadania na qual estamos inseridos;, para suprir as degolas do autoritarismo oficializado em postos de decisões políticas e da censura sobre a formação do pensamento, não podemos deixar de lado a formação em Ciências Sociais e Filosofia. Talvez as universidades possam ser públicas, embora não gratuitas, mas esta é outra discussão.

O conhecimento sobre o mundo não é intuitivo [como os saberes] e nem nasce como o sol e se esparrama como a chuva. É preciso formação dentro de instituições organizadas para tal fim. Não é recurso público jogado fora, nem a constituição de um grupo de intelectuais sem prática social. Tampouco é um reduto de formação de esquerdistas passionais.

Filosofia e Ciências Sociais valem muitos mais do que idiotices ideológicas e custam muito menos que se imagina.

 

Crédito da imagem: Google imagens

 

 

 



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