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AS RUAS E OS IDEAIS

 

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

A LEGITIMIDADE só pode ser operada dentro de um sistema de dominação. Dominação aceita, desejada e confirmada pelos subordinados. A LEGITIMIDADE é um processo que ocorre numa relação de dominação percebida como caminho adequado aos propósitos a serem conquistados e conveniente ao contexto específico.

Um sistema político considerado legítimo ou uma autoridade como o Presidente da República, necessita se firmar em três crenças de legitimidade [Max Weber]: (a) que os regulamentos e leis possam ser aceitos como adequados para se poder emitir ordens por meio de documentos e assinaturas oficiais [autoridade racional-legal]; (b) que exista a aceitação de que o tradicional é um polo de segurança para que os processos sigam ritmos e direção relativamente controláveis e acima dos desejos individuais [autoridade tradicional]; e (c) que exista uma relativa devoção à autoridade por reconhecimento de características de heroísmo ou caráter excepcional de alguém [autoridade carismática].

A controvérsia ou a dúvida formam o polo oposto à legitimidade fundada na aceitação da dominação. Os questionamentos e as críticas colocam em discussão o próprio ambiente de dominação e a não aceitação da subordinação [ainda que não seja a insubordinação] faz com que a necessidade de mudanças passe a ser o objetivo: mudar a forma de fazer, alterar os protagonistas ou mudar o sistema de operação das coisas.

Quanto mais controvérsia menos legitimidade, pois com a diversidade de crítica e a quantidade de argumentos contrários o que se gera é a “agenda negativa”. Neste caso, o que patrocina o pensamento e o desejo é a inconformidade com as coisas [status quo].

Uma das saídas para aqueles que se veem com baixa legitimidade é criar situações “ilusionistas” para que o problema a ser pensado algo que lhe favoreça como autoridade. Na história moderna ou mesmo recente, vimos autoridades se envolverem em conflitos bélicos para que a guerra seja o combustível da legitimidade; ou gerarem desconfianças sobre os adversários, os satanizando como a forma de ingresso do mal no mundo a ser defendido pelo herói do bem; ou outros que passam a desconstruir as formas institucionalmente e tradicionalmente aceitas de origem científica, por exemplo; ou que passam a desvalorizar as pesquisas e metodologias que organizam as maneiras de se organizar e planejar os investimentos públicos e as políticas públicas.

De uma maneira ou de outra, o importante para aqueles que perdem a legitimidade com o passar do tempo, é criar problemas para que eles mesmos sejam o caminho da solução e os passos da conquista, num cenário de ilusionismo político. O que vai ser debatido e criticado não será mais as fraquezas de uma autoridade, mas as virtudes potenciais diante do problema que surge pelas mãos de um mágico.

O último ato dessa cena sempre foi a população ir às ruas e demonstrar sua insatisfação com os condutores da política. Se os riscos diante dos desejos são altos, então ou se muda os que assinam os papéis, com eleições e com debates abrindo oportunidades de transformação, ou se mudam os papéis e se preservam as autoridades, com intimidação, confrontos violentos, jornais limitados e armas na mão. A segunda opção nunca se mostrou ser uma boa escolha.

 

 

 

 

Sugestão de trilha sonora: Declare Guerra

 

Artista: Barão Vermelho

Lançamento: 1986

Nome da música e do quarto álbum da banda de rock brasileiro Barão Vermelho.

Foi, também, o primeiro álbum sem Cazuza e o último pela gravadora Som Livre. 

Gravação: Gravado e Mixado em Fevereiro e Março de 1986

Gravadora: Som Livre

Gêneros: Blues-rock, Pop rock, Rock nacional, Hard rock

 

 

 

 

Créditos audiovisual: Youtube.

Foto: google imagens/terráqueos



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