ANTOLHOS DA IDEOLOGIA
JANUÁRIO, Sérgio S.
Mestre em Sociologia Política
O CONHECIMENTO FILOSÓFICO e o CONHECIMENTO CIENTÍFICO são temperados pela crítica. Logo que se expõe ao mundo, o mais correto é receber críticas, reposicionamentos, indicação de incompletudes, comparações. Diz-se, como fenômeno metodológico [área que estuda como a ciência e a filosofia se organizam para produzir conhecimento, e não serve para se saber as regras da ABNT], que o conhecimento só caminha com a crítica.
Produzir CONHECIMENTO é, necessariamente, se expor a críticas. E isso não é um defeito. Bem ao contrário: é uma qualidade. E isso torna o conhecimento também, necessariamente, impessoal. Conhecer, portanto, é o esforço de entender, compreender, interpretar. O conhecimento não gera verdades, mas críticas. E esse fórum de críticas é largamente reconhecimento nos encontros científicos de sociologia, ciência política, filosofia, economia, saúde...
Se, por algum motivo, o que se escreve se concretiza em ausência de crítica, então ou o que se fez não foi bem compreendido ou não foi bem exposto [por isso merece críticas pedagógicas]. A exposição do conhecimento tem a meta de ser superado, melhorado, adaptado... Não é uma verdade, nem nunca será. Em todo o caso, serve como caminho para se perseguir uma meta, um objetivo, um sinal. O conhecimento científico e filosófico são orientadores dos passos humanos desde a era da modernidade [século XVIII].
A IDEOLOGIA, por sua vez, se expõe como uma verdade, um caminho obrigatório, uma combinação que não pode ser criticada. E quando criticada se converte em discordância, em guerra, em julgamento, em violência, em destrato... Ideologia, que em sua origem fora o funil de seleção de ideias científicas e não-científicas, há muito se tornou uma busca alimentada por insanidade e prepotência, arrogância e vaidade.
Se, por qualquer argumento, houver dissidência, a ideologia marcará, como criminoso, o seu oponente. Como antolhos, não permite a crítica, não aceita a contraposição, não admite a controvérsia. Tapado o sol, vive na escuridão de sua verdade verdadeiramente verdadeira, insuperavelmente insuperável. Jamais poderá progredir posto que não admite seus críticos e suas críticas.
A IDEOLOGIA precisa repudiar seus oponentes, criando, dia sim outro também, uma culpa e um culpado, um crime e um acusado, um adversário e seus erros. Por mais incrédulo que possa ser, como falta o incentivo ao pensamento crítico, seus seguidores perseguem o dito como gado em cativeiro para abate. Fazem a caminhada política e a defesa das ideias como corpos que seguem sem mentes, sem pensamento próprio, sem reflexão, sem cabeça.
Para satisfazer a ideologia se pasta uma pastilha de feno todos os dias pela manhã antes da primeira refeição. E ao sair de casa, ao invés de máscara de proteção contra contaminação viral, usa-se antolhos. Para satisfazer o conhecimento basta a crítica, e uma máscara de proteção contra contaminação viral.
ANTOLHOS – anteparos que se coloca na cabeça de animais de montaria para que tenha sua visão limitada e orientada para frente para que não se distraiam ou possam se inspirar pelo que acontece ao seu redor.
Sugestão de trilha sonora: A BELA É A FERA
Artista: MARI MONTEIRO
Álbum: A BELA É A FERA
Data de lançamento: 2015
- Créditos foto: Google Image
- Créditos audiovisual: Youtube