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ADAPTABILIDADE

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

Insisto: estamos atravessando um processo de transição, mas ainda nos encontramos em fase de larva. Dos muitos novos prefeitos, colhemos as velhas práticas. Não há nenhum preparo para fazer nascer um pouco de democracia, nenhuma faceta que indique que o exercício do poder se faz em nome dos habitantes [porque cidadãos ainda não nasceram]. A maioria quer deixar uma marca bronzeada como uma grande obra para, em momento futuro, dizer: “eu fiz”.

Perde a cidadania abortada. Não será em meu nome, ou em seu nome, ou em nosso nome. Será uma marca pessoal, e não de cidadania. Uma atitude egoísta, realizada com dinheiro público, cujas origens são impostos pagos de tantas maneiras que não sabemos nem como existem.

Estamos em período de construir a renovação. Estamos deixando para traz mais uma etapa da vida política. A primeira foi a modernização do Estado Brasileiro a partir de 1994, quando alcançamos estabilidade econômica [Plano Real] e estabilidade política [reeleição e Lei de Responsabilidade Fiscal]. Ingressamos no período de inclusão social [Bolsas de assistência financeira e social]. Depois encaramos um grande desastre econômico e político no qual ainda estamos.

Agora devemos levar algum tempo até iniciarmos a retomada de credibilidade política e econômica. O crescimento econômico tem seu vigor fora do Estado, com as indústrias tendo que investir para não gerar depressão. A política é mais lenta, e com muitos passos para frente e para trás.

O período Lula já se foi. E não adianta gritar com fanatismo. E deixou de ser porque não existiu sua continuidade [Dona Dilma, um traço] e porque o líder está condenado e preso. E a passagem poderá ser iniciada nas próximas eleições com o aperto de botões da decadência de dois partidos que formaram “líderes” desafortunados: PT e PSDB, com seus partidos coadjuvantes sugadores de sangue.

Em primeira versão, o grande sucessor do destino pode ser Joaquim Barbosa, hoje no PSB [que de socialista não há nada de nada]. Negro, de origem pobre, lutador que venceu pelo seu próprio esforço, que chegou ao STF e fez acontecer a criminalização do “Mensalão”. Enquanto Dom Bolsonaro se marcava como anti-Petismo e anti-Lulismo sem ninguém para lhe aguçar, agora surge um oponente capaz de capturar os votos dos desalmados em busca de alguma salvação moral.

“Tudo permanecerá do jeito que tem sido. Transcorrendo. Transformando.” As propagandas serão realizadas por instrumentos de persuasão, e as palavras evocarão a fé da esperança popular. Depois será um “Deus nos Acuda!” As condições de legitimidade política e eleitoral permanecem as mesmas, com candidatos do mesmo jeito e sistema absurdo e inepto de “Presidencialismo de Coalizão” [necessitamos de reforma política e eleitoral].

Os sinais destacados pelos atuais prefeitos, salvo exceções raríssimas que não parecem estar por perto, são desastrosos. São pessoas diferentes fazendo as mesmas coisas do mesmo jeito. Está tudo muito estranho porque queremos ser diferentes e melhores mas fazendo tudo igual. Inclusive você eleitor quando acusa um candidato para salvar sua preferência eleitoral como a menos ruim: uma tentativa inescrupulosa.

A mudança precisa mais do que nomes e pessoas diferentes: requer posicionamentos com vigor democrático e coragem política; necessita de ideias simples carregadas de preceitos morais realistas e valores sociais republicanos. Ainda não se apresentaram a nós. É necessário fazer nascer novos, inovadores e corajosos políticos. É na juventude de espírito, que podemos observá-los.



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