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A RIQUEZA SOCIAL DO TRABALHO

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

MEDEIROS, Daniella

Jornalista

 

 

A partir de determinada idade iniciamos a trajetória de empregados, ao menos para a grande maioria. Desde os 16 anos, alguns já traçam sua iniciação no circuito de trabalho, seja como estagiário, emprego formal ou atividade remunerada informal. Isso implica em assumir que a vida de fim de adolescência e por toda a vida adulta passaremos a maior parte do tempo vinculada ao emprego ou trabalho.

Algumas características se tornam fundamentais para compreender esta trajetória tão marcante da vida. Em primeiro lugar surge o dilema segundo o qual empresas exigem experiência para que um pretendente possa ocupar tal função ou cargo. É por isso que o estágio se torna relevante. Para o iniciante, o estágio significa assumir as condições orientadoras para qualquer atividade: sua agenda diária passa a ser definida pela “instituição trabalho”. Chegar no horário marcado [determinação de tempo social], exerce as atividades que lhe são determinadas [determinação de função], assumir hierarquias de mando e comando [determinação de subordinação], ser capaz de ser membro de equipe [determinação de relacionamento interpessoal]. As empresas exigem esse repertório de comportamentos e regras para que seus resultados continuem num fluxo esperado.

Portanto, não é apenas executar as funções de produção, mas especialmente as de relações sociais que são requeridas pela “instituição trabalho”. E isso deve começar nas relações familiares, ser aprimorado nas relações escolares, fundamentado nas relações de caráter religioso, e refeito nas relações de amizade.

A “instituição trabalho” refere-se muito mais do que o esforço físico ou mental para continuar sua trajetória. Requer de nós um conjunto imenso de capacidades sociais. É por isso que muitas vezes “trabalhar com parente” é tão difícil. Isso porque poderá haver uma confluência do “familiar” com o “profissional”. De certa forma as relações familiares escapam dos requisitos organizacionais de uma empresa, especialmente a impessoalidade. É mais difícil ser profissional quando se conhece em condição de relacionamento familiar os chefes. Sempre haveria uma chance de se invocar o “caseiro” para se justificar atitudes “na empresa”. Algo semelhante acontece no “emprego público”.

Do trabalho também surgem as relações de amizade. Construímos uma vastidão de amigos (aqueles que se tornam presentes em nossas vidas). E algumas vezes até mesmo são promovidos relacionamentos matrimoniais, ainda que algumas empresas “proíbam” que cônjuges ou familiares possam trabalhar na mesma empresa para que não sejam confundidas as vidas profissionais com as familiares. Do trabalho surgem fluxos de convites para encontros de finais de semana, lazer, esporte, cinema. Do trabalho ressurge um mundo relativamente estável para a vida social.

Por isso, aquele que perde o emprego, perde – ao mesmo tempo – um conjunto de relações sociais e fica “à deriva” no mundo das relações sociais e se vê obrigado a recomeçar a reconstrução de sua vida social.  Passa por um período de luto, até que tudo seja reiniciado em um outro emprego. E então a vida social recomeça. Ao menos para os que driblam o luto afim de valorizar-se em sociedade.

 

 

 

 

Crédito da imagem: Ivan Cabral (ivancabral.com)



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