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A NECESSÁRIA REDEFINIÇÃO DOS PARTIDOS POLÍTICOS

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

Partidos Políticos já foram organizações caracterizadas por conciliar interesses políticos de grupos com a capacidade de representar inclinações de grupos distintos de uma sociedade. Ao se confrontarem em Parlamentos expressam embates e discussões existentes na sociedade: forma de disciplinar dissidências entre grupos sociais e evitar colapsos de confrontos físicos entre os grupos. Transfere-se o confronto violento entre pessoas às discussões políticas entre diferentes. A força física é deslocada a argumentos, posicionamentos, persuasão e, por fim, votos. É para que serve a Política: evitar os combates físicos, as guerrilhas, as guerras civis e as guerras entre nações. A Política é uma instituição fundamental para a formação do Estado e diminuição da violência. Os Partidos Políticos serviriam a este propósito que, como por magia, consegue contrair os instintos humanos mais primitivos em organizações sociais e políticas de segurança social para a convivência coletiva.

Canalizar a brutalidade física em aceitação de diferenças é o efeito psicanalítico da Política: ideais da Política na Modernidade. A Política produz o efeito de deslocar as vontades pessoais e egoístas para cenários coletivos, generalizantes, para fazer brotar o consenso possível. Esta é a Liberdade possível [limitada pela condição de vida em grupo], para a Fraternidade [se poder viver em sociedade] e a Igualdade [institucional, generalizável porque para todos e cada um]. Mas quando ventos sopram com violência contra os ideários civilizacionais, é chegada a hora de se rever o caminho e a História: observar as ‘pegadas dos mais velhos’ é evitar tropeços.

As experiências dos Partidos Políticos no Brasil estão muito distantes dos ideais do Período Moderno. Desde a Revolução Política [França, 1789] e da Revolução Econômica ou Industrial [Inglaterra, 1760-1850], vivemos a nos inspirar no modelo político europeu, sem sucesso. Aqui a Constituição da República sofre mudanças e rasgos a cada dia; as “ideologias políticas” são confundidas com comportamentos culturais, como o conservadorismo social e religioso; os interesses coletivos são usados para dissimulações e retóricas afônicas; os eleitores servem para legitimar a distância entre as pessoas comuns [difícil considerarmo-nos cidadãos] e as decisões políticas; os políticos [difícil considera-los representantes do povo] atuam para si, para seus poderes, para alcançar dinheiro público [público é um ente sem cara, sem braços, sem endereço, sem CPF] como se fosse uma conta privada alimentada com depósitos diários de impostos].

Os Partidos Políticos precisam ser revistos, reconsiderados, refeitos. Hoje são organizações privadas, com presidente-proprietário, cúpula de decisões, que respira dinheiro público com mãos do mundo privado, as mesmas mãos que levam camarões até a boca e que, ao mesmo tempo, deixam mãos que esmolam nas ruas. Mãos que esmolam escolas, hospitais, segurança, infraestrutura urbana, água potável e saneamento básico, transporte público...

A Democracia requer investimentos públicos – organização de eleições, motivações aos eleitores, responsabilização de candidatos, previsibilidade jurídica de campanhas... Os Partidos Políticos, quando não funcionam mais como elementos de Democracia e se revigoram como entidades privadas para fins privativos precisam de necessária redefinição... Por tudo que exalam como senhores privados, Políticos e Partidos Políticos são como o metal da espada que não poupa o próprio ferreiro. É hora de revisão ampla da Política e suas entidades.

 

Sugestão de Trilha Sonora: JASPER

Artista: CAETANO VELOSO

Autor: CAETANO VELOSO, ARTO LINDSAY, PETER SCHERER

Álbum: ESTRANGEIRO

Ano de Lançamento: 1989

Crédito de Imagem: AUTOR DO ARTIGO



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