A MAGIA DE VIVER EM SOCIEDADE
JANUÁRIO, Sérgio S.
Mestre em Sociologia Política
Desde os “descobrimentos” dos novos mundos realizados pelos europeus no século XV é que passamos a concretizar o “ponto de vista” dos homens, brancos, europeus. Observamos a descoberta da Colônia Portuguesa na América em 1500 (embora, curiosamente, o Tratado de Tordesilhas que dividia essas terras entre portugueses e espanhóis tenha ocorrido em 1498) pelo brado “Terra à vista” entoada por vozes de conquistadores brancos num simples desprezo pelos habitantes locais.
Na posição de serem civilizados (contra os indígenas considerados selvagens), de serem politizados (contra a “primitiva” organização dos habitantes locais), de serem socialmente hierarquizados (contra a falta de “contrato social” das “naturalmente dóceis” tribos) etc. se consideravam superiores.
A história das sociedades civilizadas e a história da sua fração moderna é contada por seu conteúdo lógico linear, cuja matriz é revelada no pequenino enredo de “1+1=2”. A cristalização da modernidade se faz parecer tão límpida quanto os planos de organização empresariais, segundo a qual as hierarquias e planejamentos são suficientes para que os resultados possam ser estruturalmente alcançados.
Deixamos aos “primitivos” (como sinônimo de atrasados ou não-evoluídos) as narrativas sobre sua pequenez social e política, que comem raízes, que não dominam a natureza e suas forças (ao contrário, são submetidos a ela) e que conseguem viver dominados pela crença na magia e na superstição.
É in-crível quando nos percebemos como superiores porque conseguimos dominar a natureza e suas forças sempre a nosso favor e submetendo-a ao desenvolvimento econômico (a despeito de todas as agruras sobre o meio ambiente ou o conjunto da natureza); ou porque construímos cidades e equipamentos sofisticados.
É in-crível como passamos a acreditar na “força protetora” dos medicamentos, ainda que desconheçamos sua constituição química; ou como acreditamos nas “certezas” da ciência quando revela resultados na base da afirmação de que “pesquisas científicas” asseguram conclusões (ao mesmo tempo é difícil acreditar na trajetória do conhecimento científico sobre o “ovo”, vilão e salvador tantas vezes).
É in-crível como acreditamos na força magnetizadora do dinheiro: um pedaço de papel com especificidades em sua constituição, com símbolos de valor e com a magia da conversibilidade em qualquer coisa (inclusive a honra transformada no “o quanto custa” e deixando de lado “o quanto vale”). Acreditar no dinheiro como uma força capaz de se transformar em produtos e serviços e de circular de mão em mão mantendo a mesma condição de existência é um dos maiores “resultados da civilização”.
Contraditoriamente, é na magia que acreditamos que encontramos a “permissão” para viver como sociedade desenvolvida e civilizada. É na força misteriosa da crença na magia que podemos “olhar para o futuro” como capazes de dominá-lo. É na magia do tempo social – caracterizado pela crença na existência do amanhã que, quando chegar somente poderá acontecer depois de amanhã, um tempo que jamais chegará – que podemos viver integrados como grupo. Sem a crença na magia e na fé sobre o amanhã não poderíamos suportar as mais dolorosas dificuldades e os mais drásticos obstáculos. Que possamos aprender com os “nativos” e com os “primitivos” e suas magias. Eis porque “o amanhã a Deus pertence”!
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O dinheiro é uma condição simbólica. Assim como o
tempo social. Porque o amanhã, concretamente, nunca vai chegar.
E apenas deixará de existir quando você deixar de existir.
Como inspira-nos o poema
ADIAMENTO de Álvaro Campos.
Neste link declamado por Antônio Abujamra
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Fonte do Poema: arquivopessoa.net
Fonte do vídeo: youtube.com/cinepovero2009
Crédito da Imagem: Série de fotografias "The Stangers Ones". Uma representação surreal de como vemos a nós mesmos após certa idade, principalmente quando somos acompanhados de uma perda de memória significativa. Por Tony Luciani
Neste Link mais fotos da série: https://www.ideafixa.com/oldbutgold/tony-luciani-encara-os-91-anos-e-a-doenca-de-sua-mae-criando-retratos-surreais
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