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A FORÇA DO INVISÍVEL QUE NOS CONDUZ

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

O mundo é um grande desafio à compreensão humana. Não fosse assim não faríamos tantas perguntas, e nem mesmo precisaríamos da ciência e da filosofia. Ao mesmo tempo, não alcançaríamos tantas respostas diferentes para as mesmas questões que nos colocamos. E esse fato, em metodologia [conjunto de teorias que fundamentam uma investigação e suas formas e técnicas de abordagens possíveis e adequadas para organizar respostas viáveis], é o ponto de partida que se consolida como a maneira de se organizar e planejar as coisas no mundo Moderno.

Se “a maçã” sempre caiu da macieira isso é fato inconteste; mas somente mentes preparadas para observar [e não apenas ver] que ali haveria um conjunto de forças de atração foram capazes de interpretar o que nos é invisível aos olhos, mas observável em campo metodológico. Assim também são processados os campos de luta e as arenas de forças que nos conduzem em cada dia: uma pessoa que estende a mão e “processa” a força social capaz de “parar” um ônibus é, apropriadamente, um super-herói.

Causa espanto em alguns a afirmação segundo a qual a filosofia moderna [construída com o Humanismo Renascentista] não é algo contrário à religião, ou uma ciência para elevação humana em si mesma. A conduta dos filósofos foi buscar compreender a natureza para se aproximar do racionalismo mais puro e verdadeiro. Isto é, o conhecimento humano sobre as coisas – especialmente sobre a natureza entendida como “o livro” sagrado escrito por Deus – é a forma de se elevar o próprio humano a condições de racionalidade superior. Não é sem propósito que teo-ria seja construída pelo radical theos [em grego, “observar” e que na Idade Média foi tomado pelo caráter daquele que tudo sabe, vê e pode].

A origem do conhecimento moderno não se dá pela exclusão da religião, mas pela sua reinvenção humana. Daí em diante, o período da Modernidade conseguiu separar valores religiosos para o campo da espiritualidade, enquanto os valores políticos foram dispostos para os próprios homens conduzirem seus destinos. Cada templo religioso pode e deve realizar suas cerimônias em seus espaços e de acordo com suas crenças, enquanto que o Estado Moderno concretiza os arranjos para o destino social e político dos homens nos “templos” políticos.

Por várias razões de nossa história, preservamos decisões políticas com base em valores de tradição religiosa, até mesmo definindo uma “religião oficial” de um Estado. Isto porque não é um ato de magia separar religião [destino espiritual dos humanos] e política [destino social e político dos humanos e da natureza]. Assim, discussões sobre homossexualismo absorvem duas bases opostas: de um lado tudo aquilo que para alguns deve ser uma decisão individual baseado no direito do indivíduo em nome da cidadania e, de outro lado, outros reivindicam valores de fundamento religioso sobre o bem e o mal, a vida e sua existência, que são constituintes dos comportamentos sociais.

Seja para qual posicionamento as pessoas se orientam, no fundo essas questões ainda serão insolúveis enquanto não definirmos quais fundamentos serão os orientadores das decisões a serem tomadas. E é por isso que, mesmo no tempo da “sociedade do isolacionismo” [quando cada um é um perfil de rede social] são os constantes desafios de vivermos em grupos sociais que ainda nos moverão para os dias de amanhã, posto que o futuro é uma escala de tempo muito longa.

E para entendermos nossa própria vida social e política é essencial nos posicionarmos sobre os fatos e coisas que nos rondam como fantasmas e fadas. E justificarmos nossas atitudes para explicar o que foi feito. E mais ainda, procurarmos compreender os fundamentos segundo os quais fazemos o que fazemos.

 

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Humanismo Renascentista: em distinção ao período da Idade Média, o Renascimento coloca o homem como centro da formação social e política da vida e não como um satélite da divindade à procura da imortalidade. Para o Renascentista nada do que é do homem pode lhe ser estranho. Contudo, esse novo período da humanidade não é apenas o renascer dos valores gregos e latinos, mas um Renascimento Europeu formado dentro de valores religiosos.



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